sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Preocupações industriais

A intervenção de Henrique Neto no programa Negócios da Semana de ontem merece todo o destaque. Trata-se de um capitalista industrial com negócios no sector exportador em áreas intensivas em tecnologia e com conhecida intervenção cívica. Está por isso bem posicionado para avaliar a situação da economia portuguesa. Os seguintes pontos sintetizam as suas principais ideias: (1) A apreciação do euro é desastrosa para a economia portuguesa e a complacência do BCE perante as actuais dificuldades é incompreensível; (2) uma parte do sucesso exportador da Alemanha deve-se à existência de instituições públicas robustas (nomeadamente no sector financeiro); (3) a especulação, o rentismo fundiário e a ausência de uma política de solos são parcialmente responsáveis pelo sobreendividamento das famílias que pagaram pela habitação muito mais do que deveriam assim enriquecendo um sector muito minoritário da sociedade portuguesa; (4) a situação da nossa economia é também o resultado de más opções de política económica que privilegiaram os sectores errados; (5) a CIP mostra que não é capaz de respeitar os compromissos previamente assumidos ao tentar agora ligar as negociações sobre a evolução do salário mínimo a modificações na legislação laboral; (6) esta iniciativa da CIP explica-se pela pressão do sector do turismo que continua a apostar na mão-de-obra barata e sem direitos; (7) o governo está a privilegiar este sector, através dos projectos de interesse nacional, o que só acentua um perfil de especialização assente nos baixos salários, na construção e na especulação imobiliária, repetindo assim os erros de sempre; (8) é preciso um cuidado e sensibilidade adicionais quando se frustram as legitimas expectativas dos trabalhadores em relação à segurança social. Enfim, tivéssemos nós mais empresários como Henrique Neto e talvez pudéssemos aspirar a uma variedade de capitalismo mais decente.


Nota: a fotografia é de Pedro Guimarães

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