quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Turbulências

«O facto de existir um processo de coordenação não implica que exista harmonia ou equilíbrio, nem no sentido ideológico como uma característica imanente do capitalismo, nem no sentido rigoroso de uma propriedade de estabilidade dinâmica que prevalecesse nos mercados (. . .) a complexidade e a mutação estrutural só podem ser explicados como desenvolvimentos históricos». Assim escrevia Francisco Louçã no seu livro A Turbulência na Economia. A crise e a instabilidade recorrentes, ainda que até agora circunscritas, da actual configuração histórica do capitalismo sob hegemonia da finança de mercado aí estão para mostrar a necessidade de um quadro teórico que saia da obsessão com o equilíbrio de mercado da teoria económica dominante. Agora, em artigo no esquerda, Francisco Louçã defende, apoiando-se na evidência que se vai acumulando, que «a crise de 2008 será por isso a primeira grande crise financeira da desregulação ou da financiarização desregulada dos mercados mundiais». A previsão em ciências sociais, como Francisco Louçã sabe melhor do que ninguém, é um exercício arriscado. Até porque existe sempre a possibilidade de que a acção individual e colectiva contrariem de forma inesperada o cenário que agora se identifica como mais provável. O problema é que quem tem poder político ainda está preso a uma ideologia que bloqueia a introdução de reformas robustas num sistema financeiro que é o resultado de mais de duas décadas de neoliberalismo. Controlo de capitais e novas taxas dissuasoras da especulação, fim dos paraísos fiscais, criação de uma autoridade europeia de regulação financeira, limitação das operações de titularização e de especulação com recurso ao endividamento, maior controlo público sobre as actividades dos bancos, reversão dos processos de privatização da segurança social ou acção coordenada nos mercados cambiais são parte de uma necessária agenda de mudança estrutural (sobre isto consultar o euromemorandum 2007).

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