sexta-feira, 18 de abril de 2008

A esquerda italiana em estado de choque II

A primeira experiência de Berlusconi no poder (1994-1995) foi breve. Como muitos antes dele e alguns mais recentemente, foi vítima de um sistema político em que uma miríade de pequenos partidos tem frequentemente o poder de fazer cair o governo. Mas foi o tempo suficiente para as novas formações partidárias na politica italiana - nomeadamente à direita, onde surgiram um partido liberal-populista apoiado pelos empresários (ou candidatos a sê-lo), outro de ex-fascistas com forte implementação no aparelho de Estado e outro ainda independentistas com um discurso xenófobo dirigido às populações do norte do pais - se instalarem.

Aos ex-comunistas, que haviam optado por uma estratégia centrada na conquista do poder a qualquer custo, restava coligar-se com os despojos moderados dos ex-democratas cristãos e dos ex-socialistas. A coligação liderada por Prodi, que chegou ao poder em 1995, era assim composta por uma miscelânea de sensibilidades, nas quais indivíduos e grupos que haviam sido adversários durante décadas se viam forçados à convivência. Mesmo esta coligação improvável não garantia a estabilidade parlamentar, forçando Prodi a depender do apoio parlamentar dos pós-comunistas do Partido da Refundaçao Comunista e de outras formações de diferentes orientações. Prodi não resistiu, forçando a procura de novas coligações governamentais, cada uma mais instável que a outra, erodindo a pouco e pouco a imagem dos partidos no poder durante a segunda metade da década de 90 - em particular os ex-comunistas da DS.

Ao mesmo tempo, Berlusconi usava as suas empresas de comunicação para fazer um ataque cerrado à DS e seus aliados, e para promover a sua imagem. Fiéis a uma estratégia há muito delineada, os dirigentes da DS faziam o que podiam para se apresentarem à opinião publica como uma força responsável e moderada. A cada acusação de 'comunistas' - a preferida de Berlusconi - reagiam com posições e afirmações que os afastavam dos eleitores mais à esquerda, sem por isso conquistarem os eleitores de direita (desconfiados dos ex-'papões vermelhos').

Instabilidade politica, descaractetização ideológica e políticas impopulares tiveram o resultado esperado: o segundo governo de Berlusconi eleito em 2001 (o primeiro desde o pós-guerra a durar uma legislatura inteira). A esquerda italiana ficou mais uma vez em estado de choque.

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