quarta-feira, 13 de agosto de 2008

O romance de mercado tem um preço elevado

O crescimento económico anual em Portugal é medíocre, pouco ultrapassando, em média, 1% desde o início do novo milénio; o défice externo andará à volta de 11% do PIB no próximo ano e indicia uma inserção internacional crescentemente dependente e que se entregou às forças do mercado sem as procurar governar; a taxa de desemprego arrisca-se a permanecer duradouramente bem acima de 7%, num país com uma rede de protecção social fraca, e constitui-se em poderoso mecanismo disciplinar para forçar uma parte importante dos trabalhadores a aceitar uma continuada redução nos seus níveis de vida; o injustificado nível de desigualdades salariais e de rendimentos, quase sem precedentes na Europa, torna qualquer discurso que defenda o famoso "apertar do cinto" salarial, porque, afinal de contas, "estamos todos no mesmo barco", um exercício que oscila entre o cinismo e a insensibilidade; a taxa de pobreza, elevada e persistente, atinge um segmento importante das classes trabalhadoras, que estão também cada vez mais expostas à precariedade; a lotaria da vida, ou seja, o contexto socio-económico onde se nasce, determina, mais do que em qualquer outro país da Europa, aquilo que os indivíduos vão ser e fazer nas suas vidas, transformando, a par com o escândalo quase invisível da pobreza infantil, todo o discurso sobre a recompensa do mérito e do esforço numa grotesca farsa. O resto pode ser lido no Jornal de Negócios. Agora regresso às minhas férias virtuais. Volto em Setembro.

37 comentários:

Filipe Melo Sousa disse...

No que diz respeito aos 40% do PIB que representa o mercado, e que não é extorquído pela máquina fiscal, prescindir da "aventura do mercado", seria consequentemente contrair a economia na mesma proporção.

Quanto ao 1% de crescimento, teremos de analisar a psicologia dos 60% controlados por burocratas que não têm nenhum incentivo para produzir seja o que for, apenas para permanecer na secretária até às 17h.

Anónimo disse...

Oh Filipe, quanta inocência... Onde foi buscar os 40%?

Seja como for, o Filipe divide o país em dois: o estado e mercado (40% e 60%, lololol). O estado são os burocratas que não fazem nenhum, e o mercado são pessoas justas com dinheiro, que se queixam justamente de os seus trabalhadores não trabalharem o suficiente para si.

Quanta inocência, filipe...
lolololol

Antes de estudar a psicologia dos burocratas, estude a sua própria que é bastante mais interessante.

Filipe Melo Sousa disse...

Inocência, ou ausência de culpa, está do lado de quem nunca se apropria daquilo que não lhe pertence. Não é preciso grande introspecção para concluir que não devo nem tirei nada a ninguém.

Anónimo disse...

Ó filipe, só por curiosidade, o que é acha da apropriação do trabalho do outros por uma soma de dinheiro bastante inferior àquela que é produzida justamente por esse trabalho?
Com essa aposto que o Filipe vive bem!

Como já antecipo a sua lenga-lenga costumeira, lembro-o de que os contratos entre duas ou mais pessoas, para serem válidos, necessitam de ser minimamente JUSTOS para ambas as partes e, como tal, não é por um individuo estar numa situação de desespero que é legítimo contratá-lo por 20 cêntimos à hora.

Filipe Melo Sousa disse...

Nenhum empregador deve ser obrigado a pagar acima do valor justo. Se ninguém paga mais de 0,20 a uma certa pessoa, não é justo pagar acima. É aquilo que ela realmente vale. Ninguém tem culpa do desespero dos outros. Cada um que pague a factura do seu.

L. Rodrigues disse...

"Ninguém tem culpa do desespero dos outros"

O seu reino não é deste mundo.

Sérgio disse...

Caro Filipe,

Quando é cada vez mais claro em que consiste o Liberalismo de facto neste mundo fora você ainda tenta zurzir na burra com essas ideias?

Eu acho estranho falar-se em falta de competitividade quando esta afecta sobretudo pequenas e médias empresas que nunca investiram um tusto nos seus colaboradores nem na modernização de infraestruturas. Mas claro que a culpa é sempre da "legislação laboral inflexível"... É de uma hipócrisia atroz.

Se os agentes do mercado em Portugal sào uma bela merda, sem qualquer espírito empreendedor e/ou estratégias que não passem por saláriios de miséria de quem é a culpa senão deles próprios?

Enfim, disparates de quem tem as costinhas quentes e que um dia vai herdar as empresas do pai. Pode não ser verdade pois não conheço o Filipe Melo Sousa, mas o tipo de discurso é-me terrivelmente familiar.

Filipe Melo Sousa disse...

Corrijo: torna-se claro para si que o liberalismo não lhe agrada. Por algum motivo não suporta que um homem possa ser livre e independente. Irrita-o que não possa intrometer-se na gestão das empresas dos outros.

Precisamente por causa dessas interferências criou-se uma classe de empresários que apenas espera pelos cheques de incentivos do governo, e que lhes digam que formação dar aos seus empregados cada vez menos aptos.

Cabe aos empregados, não à empresa, valorizar-se e procurar o local onde melhor o consigam. Ninguém os obriga a permanecer numa empresa que não os valorize.

L. Rodrigues disse...

"a permanecer numa empresa que não os valorize"

Ou num país.
Ou num mundo.

Pum.

Filipe Melo Sousa disse...

Se o homem tentou em toda a parte do mundo e ninguém o queria aproveitar... é porque n tinha muito que se aproveitasse.

L. Rodrigues disse...

Aproveitar aproveita-se sempre, nem que seja para estrume, não é?

Filipe Melo Sousa disse...

Não é por muito se indignar que uma pessoa se torna capaz. Olhe, fique você com ela. Bom proveito.

L. Rodrigues disse...

"fique você com ela"

Está tudo dito.
Um (não tão) subtil endosso da escravatura...Já viu no que dão as suas ideias?

Filipe Melo Sousa disse...

É todo o contrário da escravatura. Defendo a liberdade fazer e desmanchar laços livremente, ao contrário de si. A escravatura pressupõe uma relação imposta pela força, algo que você defende.

L. Rodrigues disse...

Já ouviu falar em dissonância cognitiva?

Filipe Melo Sousa disse...

Desfasamento entre actos e decisões. Mas no seu caso não, você é consistentemente intromisso e autoritário para com os cidadãos.

L. Rodrigues disse...

Pode dizer isso da ficção com que escolheu representar-me para emprestar coerência ao seu universo interno, mas não mais que isso.

Filipe Melo Sousa disse...

Não é necessário fazer ficção. Você próprio enfia a carapuça nos seus comentários. Depois esquece-se. Começo a perceber a questão da dissonância. Agora percebo o seu aviso.

L. Rodrigues disse...

Qual carapuça?
Vc tem essa visão estranha da sociedade, que nem ante-tribal é, uma abstracção baseada em noções de natureza humana que apenas existem porque deram jeito aos modelos de alguns economistas cada vez mais desacreditados, e os outros têm que se conformar a elas só porque sim?

Filipe Melo Sousa disse...

Moral a dois tempos: primeiro prega princípios confiscatórios. De seguida afirma que resistir ao roubo é um "modelo desacreditado". Estranha forma de ver as coisas.

L. Rodrigues disse...

Aqui nesta caixa, o unico principio que defendi foi a impossibilidade da mobilidade infinita do ser humano.

Filipe Melo Sousa disse...

De infinita para muito restrita. De qualquer maneira, interferencia na vida dos outros.

L. Rodrigues disse...

Se estiver alguém a afogar-se à sua frente, olha para o lado porque não é nada consigo?
Ou dispende ao menos um pouco de esforço, se não a salvar, pelo menos a chamar quem o faça?
E se o faz, fá-lo por quem? Pela pessoa ou por si?

Filipe Melo Sousa disse...

Nesse caso é um compromisso, e faço-o livremente. É um pequeno incómodo em troca de um aumento considerável na minha popularidade.

L. Rodrigues disse...

É assim tão falho de empatia? Tão centrado no seu umbigo?

Se eu escolher acreditar na sua resposta, posso concluir que o Filipe padece de um problema que afecta cerca de 2-3% da população e geralmente constitui o pool de onde saem os psicopatas.

Mas acho que não, isso é mesmo é retórica da mais vácua.

Filipe Melo Sousa disse...

O umbigo dos outros é-me indiferente. É a natureza humana. De nada vale esperar algo diferente do homem. Apenas coagido ele agirá de outra forma.

L. Rodrigues disse...

Lamento, mas é dos livros. 2-3% é a percentagem de pessoas que se está a borrifar para o sofrimento das outras.

2-3% não constituem numero suficiente para serem o paradigma pelo qual nos organizamos socialmente.

O filipe, pelos vistos, cai dentro dessa percentagem, o que explica muita coisa.

O egoismo faz parte da natureza humana. Mas é apenas uma parte dela. Também há espaço para o altruismo, para a reciprocidade, para a cooperação e muitas outras mais formas de nos relacionarmos com os outros.

Escolher apenas uma forma, não é libertar a natureza humana, é restringi-la.

Filipe Melo Sousa disse...

Ou será antes a percentagem de pessoas intelectualmente honestas para reconhecer o seu interesse em primeiro lugar? 2-3% o reconhecerão em público. Muitos outros fazem o frete de fingir que não, mantendo a farsa. Mas agindo sempre em proveito próprio. Todas as formas de "altruísmo" que conhece não passam de uma forma de obter algo em troca.

L. Rodrigues disse...

Os dados que referi vêm da Psicologia, desde os anos 50 pelo menos que esse valor foi estimado e confirmado por diversos estudos. Não tem nada que ver com honestidade. Claro que para a sua auto-imagem é preferivel ser um heroi raro do que um psicopata. Nesse aspecto compreendo-o, mas não melhora a coisa.
A questao do altruismo que é um egoismo, disfarçado tem que ver com causas ultimas ou próximas.

Usando uma comparação: você quando diz que ama a sua familia, não se está a referir à valorização especial do património genético partilhado, mas é disso que se trata.
Agora imagine que descobria que era adoptado. Ia amar menos a familia que o criou? Os as causas ultimas prevaleceriam, e essas pessoas passariam a ser meros estranhos para si, e se sim, o que aconteceu com elas que deram amor a alguém que não lhe era nada, geneticamente?

Ainda que construído sobre egoismos genéticos, o altruísmo manifesta-se frequentemente como um valor em si, distante ou mesmo separado do que pode ter sido a sua causa primeira, ou ultima, dependendo do sentido onde vem.

Filipe Melo Sousa disse...

Não existe na natureza forma alguma de altruísmo humano.

L. Rodrigues disse...

Procure melhor.

Anónimo disse...

O facto de a sua mãezinha e paizinho o terem criado educado e aturado é uma excelente mostra de altruísmo.

Anónimo disse...

"Não existe na natureza forma alguma de altruísmo humano."

Já dizia Kropotkine que o altruísmo é uma forma de egoísmo, com a diferença de que é muito menos solipsista. Quem retira benefícios emocionais, conforto moral, expectativas de cooperação da ajuda mútua, fá-lo no seu próprio interesse. Mesmo que o seu interesse seja também o interesse dos outros.
Se o Filipe rejeitar a existência na natureza de altruísmo, rejeita também a existência de egoísmo.

Filipe Melo Sousa disse...

Não, errado.

Os actos pretensamente altruístas não passam de uma forma de obter proveitos pessoais em actos que ACESSORIAMENTE beneficiam também um terceiro

L. Rodrigues disse...

Quando o único beneficio que tiramos de um acto é emocional, não quererá isso dizer que a evolução favoreceu comportamentos altruistas, da mesma forma que associou a sensação de "doce" aos nutrientes contidos na fruta?

Anónimo disse...

"Ninguém tem culpa do desespero dos outros"

Pois está claro!... Por exemplo, os nazis não tinham culpa do desespero dos condenados que se encontravam em Auschwitz.
Claro...
Claro...

Filipe Melo Sousa disse...

A confusão que vai na cabeça do meu amigo. Então um empregador que simplesmente não está interessado em contratar uma determinada pessoa é equiparado a um carrasco num campo de concentração? Algum trauma de infância?