sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Chegou o momento de perguntar



O ano lectivo recomeçou nas faculdades de economia. É inacreditável, mas segundo julgo saber tudo continua na mesma, como se nada se estivesse a passar.

E no entanto, no meio de toda esta incerteza uma coisa é certa: o que aconteceu - desde a (re)regulação que permitiu a expansão absurda do crédito à titularização do crédito hipotecário - foi inspirado e legitimado pela teoria económica que se ensinou durante anos e anos nas escolas de economia e de gestão. A teoria dos mercados financeiros eficientes que dava a receita para o desastre era apenas um capítulo do que era ensinado e continua a ser ensinado como se nada se estivesse a passar. Faço um resumo da lição toda: racionalidade+interesse próprio+equlíbrio=mercado-em-que-tudo-corre-bem-excepto-quando-falha-e-tem-de-ser-o-estado-a-apagar-o-fogo.

Em Portugal, como no resto do mundo, as faculdades de economia e de gestão sofreram nos últimos vinte anos um processo de depuração: primeiro foi a economia política marxista, depois a macroeconomia keynesiana, por fim a história do pensamento económico, a metodologia da economia, a história e as outras ciências sociais.

Tudo culminou no processo de Bolonha. Que melhor pretexto do que a necessidade de comprimir os curricula para evacuar de vez qualquer visão dissonante? A ortodoxia arrogante dizia: há um ‘core’ (a expressão inglesa utilizada) constituído pela micro, a macro e a econometria, o resto não é bem economia. Nesse momento, os projectos que aqui e ali apesar de tudo ainda procuravam preservar o pluralismo, foram cirurgicamente removidos. O que resta como excepção são (poucos e heróicos) casos individuais de professores que apesar de todas as pressões nunca aceitaram normalizar-se.

O que está feito, está feito e o que foi desfeito foi desfeito. Agora que se compreende que a economia e a gestão tal como é ensinada são parte do problema e não da solução, chegou o momento de perguntar: quanto tempo mais vai funcionar, como se não fosse nada, esta máquina de doutrinação? Como reformar o ensino de economia e de gestão, sabendo que depois da depuração não existem forças suficientes nos departamentos de economia e de gestão para renovar a partir do interior?
Pela minha parte tenho algumas ideias. Mas gostaria de ouvir opiniões.

9 comentários:

Mar Arável disse...

No ciclo das marés

por vezes a vida

vem à tona

Unknown disse...

Então, será que a solução terá de vir de fora dos departamentos? Por acaso doutros departamentos? Gostava de ler essas ideias

Anónimo disse...

Concordo plenamente com o post.
Estou no segundo ano de economia na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, e tenho pensado imenso nisso. O que mais me faz pensar é o facto de todas as teorias que aprendo na faculdade serem dadas como verdades certas e unicas, cientificas e positivas, sem qualquer hipotese de refutação...nem que partam de premissas do tipo: os agentes económicos são sempre racionais...
Penso que deve haver uma mudança, formar-se uma espécie de movimento pós-autista, que ligue a economia à sociologia, à filosofia, mais moral, mais ética, mais humana...

Anónimo disse...

Leia o "Gestores, Não MBA´s" de Henry Mintzberg. Tem todas as respostas à sua pergunta.

Anónimo disse...

Perdoem me a ignorancia e o vazio e a simplicidade da minha opinião.
Mas a solução parte das associações de estudantes serem lideradas por homens puros e que se preocupem com isso em vez das palhaçadas das praxes.A sensibilizaçao e a organizaçao em torne de lideres e a expansao dos seus ideais em massas pode dar grandes resultados.
É preciso uma limpeza nas lideres das associaçoes de estudantes e passar a chefias a homens responsaveis que tenham a noção que eles sao o futuro da naçao amanha e que essa mesma responsabilidade seja a motivação de mudar o que está mal

Unknown disse...

Desculpem, não acredito em chefias. E menos em chefias que dizem ser o futuro ou o amanhã do país.

Unknown disse...

Concordo mais com o Tiago Santos... é preciso as mudanças virem pelo pós-autismo que ele refere. Concordo.

Anónimo disse...

Acho que há a necessidade de agir, de várias formas, por parte dos alunos e dos professores, e não só por parte de economistas, mas de vários quadrantes da sociedade.

Sonho com o dia em que na minha faculdade surja um grupo de estudantes novo, um movimento que tenha como objectivo algo mais do que promover estágios e arranjar oportunidades de trabalho...
Há que acabar com este mecanicismo, esta ideia de que temos de nos preparar para o mercado de trabalho e nada mais...

Se é verdade que não há muitos estudantes, a meu ver, com vontade de lutar por estas causas, acho que o dificil é começar.

É necessário que os estudantes se unam, e que os professores se unam aos estudantes, e que a sociedade se una a ambos...e que o movimento cresça e o debate enriqueça a maneira de estudar economia nas nossas faculdades...

Anónimo disse...

Ao prof. Castro Caldas, que à poucos dias tive a oportunidade de ver num debate excelente sobre o novo papel do estado na economia, deixo a ideia da realização de um debate na FEUC sobre este tema em concreto, as mudanças no paradigma da economia, etc...

Da minha parte podia contar com a divulgação do debate junto dos estudantes, ou para algo mais em que achasse vantajosa a minha participação...

Desse debate podia surgir algo mais...e algo novo podia nascer...e esta é a minha ideia...

já agora, se alguém quiser falar comigo sobre isto, o meu contacto é tpsantos@hotmail.com