sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Sacudir a água do capote

A resposta de LA-C a Medeiros Ferreira corresponde a um eloquente «sim». Sim, a teoria económica ensinada na academia portuguesa continua a ser a mesma e, pior do que isso, se a resposta de LA-C for tida como indicador, tudo continuará como dantes. LA-C, ao contrário de cada vez mais economistas neoclássicos, não vê qualquer responsabilidade da teoria económica na actual crise. Aliás, para LA-C as únicas causas para a crise, segundo os textos que recomenda, estão numa política monetária errada por parte da Reserva Federal. É um dos dogmas que esta crise vem deitar por terra: a ideia de que a política monetária é responsável pelas dinâmicas económicas fundamentais do capitalismo sob hegemonia da finança.

É nas dinâmicas dos liberalizados mercados financeiros das últimas décadas que encontrar as raízes da crise. Ora, a liberalização destes mercados e o seu funcionamento foi claramente moldado pela teoria económica que hoje se aprende na maioria dos cursos de economia, a começar pela hipótese da perfeita eficiência dos mercados financeiros, de Eugene Fama, povoados de agentes omniscientes. Os mercados integrariam sempre toda a informação. Nunca existiria especulação ou anomalias persistentes. Para uma boa lista de como a teoria dominante falhou na prática veja-se este informativo artigo.

Há, no entanto, um caso paradigmático do final dos anos noventa. A criação do Long-Term Capital Management, um Hedge Fund (fundo de alto risco) que foi, na altura, recebida como uma grande inovação onde trabalharam dois prémios Nobel da economia, Merton e Scholes (este último um dos criadores do fórmula Black-Scholes, que todos nós aprendemos nas aulas de economia financeira e sem a qual os mercados derivados não teriam tido o desenvolvimento que tiveram). Este fundo cresceu a um ritmo exponencial. No entanto, devido à crise financeira russa, em 1998, foi à falência, tendo as suas perdas sido assumidas pela Reserva Federal. Caso contrário, todo o sistema financeiro estaria em risco. Dez anos depois a história parece repetir-se, não? Mais como tragédia do que farsa.

LA-C queixa-se também que nunca ouviu nada que valesse a pena da teoria económica dita heterodoxa. Nunca ouviu porque não quis ouvir. Se tivesse lido os contributos do Political Economy Institute ou os de alguns economistas franceses (Dominique Plihon, Michel Aglietta ou Gerard Duménil) estaria melhor equipado para compreender a actual crise. Aliás, foi o que fizemos por estas bandas.

Finalmente, quanto às «teorias caducas e refutadas» invocadas por LA-C, basta lembrar o exemplo do pós-keynesiano (logo, não respeitável) Hyman Minsky, referido neste blogue antes da crise financeira, e hoje uma referência citada no Financial Times, e logo pelo economista liberal Martin Wolf, ou na The Economist. Há quem queira escrutinar seriamente a crise. Sem dogmas.

3 comentários:

Tiago Santos disse...

É complicado constatar que alguns ainda continuam a dizer que a crise é apenas culpa de alguns gestores que cometeram crimes e que depois de serem julgados, tudo fica bem...
Faz-me lembrar a teoria de que a URSS terá caído por causa de grandes traições internas ao comunismo...
Estão bem uns para os outros...

João Pedro Santos disse...

Há certamente muitos factores da crise, mas estou convencido de que quando se analisar com frieza o período 1995-2009 a política monetária seguida pela Reserva Federal dos EUA surgirá claramente como um dos prinicipais responsáveis pela actual crise.
O que não é contraditório com a critíca à hipótese de perfeita eficiência dos mercados financeiros, pois foi essa hipótese que orientou uma política monetária que se recusou a compreender os desequilíbrios que se foram acumulando nos mercados de activos e de crédito e que teve demasiado de keynesiana no sentido de demasiado preocupada com o curto prazo. Quanto às eventuais visões alternativas importa recordar que elas não estão só à esquerda e que, em particular, a escola austríaca também merece alguma atenção.

Fábio disse...

Com fórmulas complicadas como a de valorização de calls europeus de Black e Scholles, é natural que a economia capitalista falhasse.