quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Universidade SA

«Cara Universidade, Acabaste. E nós “acabámos”. A partir de agora serás cada vez mais uma prestadora de serviços, funcionando segundo uma lógica mercantil, utilitarista, instrumental, gerida segundo critérios de produtividade típicos de uma empresa. Serás ainda menos democrática no funcionamento, mais fechada à inclusão dos alunos de camadas menos favorecidas, e ainda mais burocrática (substituindo a velha e horrível burocracia do estado por uma burocracia empresarial fetichizada - venha o diabo e escolha) . Definir-te-ás cada vez mais como algo que não é um serviço público, serás cada vez mais avessa ao pensamento crítico e à criatividade e, em última instância, acabarás odiando a própria ideia de ciência, substituída pela instrumentalidade técnica de curto alcance, imediatista, flutuando ao sabor da “demanda” empresarial, das encomendas governamentais e da demagogia da oferta imediata de saídas profissionais (que resultarão em pessoas desempregadas 5 anos depois, quando as skills hiper-especializadas morrerem no mercado com os respectivos produtos…). Não admira que quem se vá dar bem contigo seja um certo tipo de gestão e economia, e um certo tipo de sociologia. Acabaste. Agora és outra coisa, que te chamem outra coisa, porra, sei lá, direcção-geral das políticas públicas e dos potenciais secretários de estado de governos socialistas, ou Sociedade Anónima (ou anómica?). Acabaste». Excerto da carta que Miguel Vale de Almeida escreveu à Universidade SA, que está a ser construída a golpes de política pela esquerda mínima. Não percam o resto. Os artigos sobre o ensino superior, que constam do último número da OPS! Revista de Opinião Socialista, são um bom complemento para quem queira compreender o que a OCDE está a fazer em Portugal. A fotografia foi roubada a Miguel Vale de Almeida.

3 comentários:

Miguel Fabiana disse...

Afinal há esperança, mas são os "Mais Velhos" (como se diz em África) que arriscam: Nuno Valério, professor catedrático do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) em entrevista no http://www.jornaldenegocios.pt/index.php?template=SHOWNEWS&id=353850.

"... ideia de que, quando as coisas correm bem, deixá-las ir, e quando correm mal, vamos chamar o Estado e controlá-las, é uma ideia, em si mesma, contraditória, que não funciona. Se queremos que o Estado possa, com grande eficácia, controlar a economia quando ela está mal, é preciso que esses mecanismos de controlo estejam montados e a funcionar quando a economia está numa fase de prosperidade..."

Quando é que os "Mais Novos" arriscam pensar e debater as "Novas Ideias" ?

"...Mais do que contabilizar o dinamismo económico, temos de contabilizar o custo desse dinamismo e não simplesmente o pago pelos agentes económicos, mas aquele que aparentemente ninguém paga, mas que a economia suporta em termos de incapacidade de manter os recursos naturais. E isso, evidentemente, quer dizer que o crescimento passado não foi tão grande como estamos convencidos que foi, porque não estamos a contabilizar os custos de termos destruído a camada de ozono, por exemplo. Se fizéssemos essa contabilização, teríamos de minimizar bastante o crescimento passado e o futuro seria de um dinamismo prudente..." - Prof. Nuno Valério

...perceberam a dica? ou vamos todos acabar assim(?): http://www.youtube.com/watch?v=79vdlEcWxvM

Anónimo disse...

Um crime o que se está a fazer. E mensagens como as que apareceram nessa parede vão repetir-se.

Palavra de escuteiro! =)

Zé Miranda disse...

se fosse só a OCDE? e o Banco Mundial a seguir à revolução? e Bolonha que a UE que aplica regionalmente depois de assinados os GATT's? E o novo RJIES português que é a expressão concreta de toda a globalização neo-liberal?

Com as sucessivas e desmobilizadores derrotas do movimento estudantil, com a despolitização generalizada na sociedade, a mercantilização das relações no espaço da escola, a uma cultura estudantil muito marcada pela praxe e a associações de estudantes (AE) muito mais viradas para a gestão de serviços do que para o conflito político estudantil, por tudo isso temos dificuldade em lutar por uma universidade diferente.

Desde 1983 que há universidades privadas. Na grécia ocuparam-se em 2007 todas as universidades só pela mudança à constituição que permitiria as universidades privadas.

Em Portugal temos com o orçamento de estado de 2009 beneficia claramente aquelas universidades que decidiram passar para o modelo de fundação – objectivo último do novo regime jurídico. O “ultimato orçamental” do ministério de Mariano Gago deixa em ruptura financeira, ou perto disso, quem não passou a fundação e condiciona a decisão democrática nas faculdades que em assembleias vão decidindo o seu futuro e reflecte o nível deste governo mas também o grau de liberalização avançadissimo que nós já temos e que impossibilitam a luta.

A luta por uma universidade pública é, infelizmente, cada vez mais uma luta dos politicos porque há cada vez menos condições para ser uma luta dos estudantes...