segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Areia para os olhos

Na passada sexta-feira foi anunciado, com pompa e circunstância, que Portugal tinha atingido 1,5% do PIB em despesas em Investigação e Desenvolvimento (ID). Mariano Gago manifestou-se particularmente contente com o facto da despesa realizada pelas empresas ser superior à soma de todos os outros sectores. O indicador parece indiciar um esforço no sentido da reconversão tecnológica da economia portuguesa que tarda em chegar.

Contudo, não deixava de ser um pouco estranho observarmos este aumento durante um período de crise económica. Normalmente, os sectores de investigação são os primeiros a sofrer com as flutuações da economia. A minha desconfiança cresceu quando vi a Caixa Geral de Depósitos como a segunda empresa que mais investe em I&D em Portugal. A Caixa não é conhecida pela suas unidades de investigação, por isso pareceu-me mais plausível que a sua despesa em I&D fosse sobretudo resultado da mera transferência contabilística dos investimentos em gestão de risco (com o qual o sector financeiro tem tão bem lidado...), de forma a aproveitar-se de potenciais benefícios fiscais.

Depois de olhar para evolução da despesa das empresas (gráfico abaixo, retirado daqui) e para evolução da legislação dos benefícios fiscais à I&D, percebi que o investimento das empresas está, de facto, sobretudo na criatividade contabilística. Olhando para o gráfico percebemos quando foram introduzidos os benefícios (1997). Mais. Observe-se o ano em que tais benefícios foram suspensos (2004) e depois a evolução com da sua reposição e reforço (2005). Crescimento exponencial em tempos de estagnação económica. Ou os benefícios fiscais têm uma influência inacreditável nas decisões de investimento em I&D ou as empresas andam brincar com o nosso dinheiro.

5 comentários:

António Alves disse...

MAIS UMA PÉROLA DA POLÍTICA OCA DO Eng. SÓCRATES

Caro Nuno,

Este assunto é de facto digno da nossa maior indignação, contudo, para sua desilusão, não é provocada pelos "patrões gananciosos" num ambiente de "capitalismo selvagem".

Este números, ridículos, decorrem da manipulação escandalosa dos critérios para a aferição das actividades de I&D realizada por parte de "burocratas", pertencentes ao nosso estado gordo, intervencionista e paternalista.

Passo a contar a história: Os números apresentados decorrem de um inquérito ao qual as empresas respondem, o Inquérito ao Potencial Científico e Tecnológico Nacional - IPCTN. Este inquérito é organizado pelo Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais - GPEARI. O escândalo está no facto do GPEARI ter contratado um conjunto de empresas de ROC's, cujo objectivo era "sensibilizar" as empresas para os indicadores de investimento em I&D. Basicamente, caindo, em alguns casos, no ridículo de apelar ao patriotismo e à necessidade de pôr Portugal nos top´s europeus, encorajavam as empresas a colocar nesse indicador, grosso modo, todo o santo custo que não tivesse que ver directamente com produção. Em resumo, o governo, através de uma "subsidiária", andou basicamente, como é costume, a trabalhar para a estatística, atirando, de facto, areia para os olhos dos tugas.

Quanto aos benefícios fiscais nada têm que ver com estes valores. O Sistemas de Incentivos Fiscais à I&D Empresarial (SIFIDE), requer uma candidatura burocrática e exigente, a qual submete os projectos de I&D a uma rigorosa análise por técnicos especializados e é tutelado pela Agência da Inovação (AdI).

Espero ter sido elucidativo. Peço desculpa, porém, se frustrei as suas intenções de "malhar" no patronato.

Bruno Silva disse...

Lendo o comentário do António Alves torna-se claro o quão tendenciosos, distorcidos e mal informados podem ser os posts deste blog.

nada que eu já não soubesse...

Anónimo disse...

As questões partidárias dividem o país, não percebo que dificuldade intelectual leva pessoas que devem estar relativamente bem informadas a reconhecer o esforço notório que tem sido feito nos últimos anos para aumentar o I&D e actividades conexas.
Por exemplo, o aumento de doutorados e investigadores é um facto. Também se deve a políticas de contabilidade criativas? Ou vão dizer que se deve às Novas Oportunidades?
Please...

Anónimo disse...

Anónimo,

acções como a que descrita no 1º comentário incluem-se naquilo a que designou como "esforço"?

Rui Curado Silva disse...

Muito bem!