sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A utopia neoliberal, os seus comissários e os seus críticos

“O equilíbrio orçamental dos países da zona euro já esteve previsto para 2002. Agora o Comissário Almunia apontou com ar desportivo uma nova meta cronológica para o mesmo efeito. Faz essa figura ano após ano em véspera das aprovações dos orçamentos dos Estados membros. Desta vez brindou-nos com um mítico 2013. Tendo em conta já não se sabe que crise, e quem precisa de novos apoios estatais, admite que o principal esforço se faça mesmo em 2012. O nosso ministro das Finanças não se desmanchou, mas a ministra francesa com o seu «franc-parler», já disse que 2013 nem pensar. Almunia fez que não ouviu. É recíproco.” José Medeiros Ferreira, certeiro, no Bicho Carpinteiro. O PEC e o papel da Comissão Europeia são apenas duas das traduções do que o economista Jacques Sapir identificou como sendo as ideias dos “economistas contra a democracia”. As ideias cristalizam-se em arranjos institucionais, em sistemas de regras. Para aguçar o apetite, deixo um excerto do seu livro:

“Um economista deixa de ser republicano quando procura impor uma representação da ordem social, não através da sua participação no debate democrático, mas pela sua pretensão de ser o detentor das leis naturais de organização das sociedades humanas. Querer substituir a escolha política pela competência do perito, o que denominaremos peritismo, é a deriva que encerra uma certa concepção da economia. Dizer isto não significa que a competência do perito não seja necessária e legitima em certos pontos. O que é perigoso e criticável é a substituição do debate político pelo peritismo em nome de uma visão totalizante da ciência económica; é a fraude que consiste em fazer passar por resultados científicos o que, o mais das vezes, mais não é de que a reformulação de velhos argumentos ideológicos e metafísicos.”

Devo dizer que um livro destes, escrito por aquele que é, na minha opinião, claro, um dos mais interessantes economistas da actualidade, merecia uma revisão científica muito mais cuidada por parte de uma editora que continua a lançar bons livros nesta área. A Fundação Mário Soares, a Sururu e a Embaixada de França fizeram muito bem em trazer Sapir ao nosso país, tal como o André Freire divulga na posta anterior. Em Portugal não faltam economistas “leninistas”, que só retiveram das suas leituras da “juventude” a ideia da necessária vanguarda que nos conduz, agora, à utopia do capitalismo de guerra. Seria bom que o jornalismo económico de referência pudesse dar o merecido destaque a esta iniciativa.

3 comentários:

Anónimo disse...

Percebo de economia tanto como de swahili, mas quero aqui recordar a notícia recente sobre um novo record mundial: os mil milhões de subalimentados. Presumo que os milhares de milhões de que se tem falado em ajudas a empresas e instituições bancárias terão como consequência o fim de tais records. Certamente que, pelo menos no ocidente cristão, é o que moverá e para que afanosamente todos trabalham. Não tenho a menor dúvida. Agora, os socialismos definitivamente desacreditados e encontrado o sistema possível mais perfeito nada finalmente impede a gloriosa marcha da humanidade para a justiça social.

JP Santos disse...

"Querer substituir a escolha política pela competência do perito, o que denominaremos peritismo, é a deriva que encerra uma certa concepção da economia. Dizer isto não significa que a competência do perito não seja necessária e legitima em certos pontos."

Inteiramente de acordo a principal discussão é como distinguir correctamente os papéis. Importa não esquecer que a política é "a arte do possível" e que os peritos devem ter um papel importante na avaliação da sustentabilidade das opções políticas.

Já agora, devo dizer que não compreendo muito bem o que isto tem a ver com o Pacto de Estabilidade. O PEC não só não resultou de nenhum conclave de economistas como o autor do post saberá foi e é criticado por muitos economistas, por diversas razões. O PEC foi (é) o resultado de decisões políticas foi o preço político, acordado por políticos, que a Europa teve de ceder para que a Alemanha aceitasse o euro. Por isso não percebo sinceramente porque é que o PEC possa ser como um exemplo dos "economistas contra a democracia".

Lobo da Gardunha disse...

Não sou economista mas pelo andar da carruagem, este rectângulo à beira-mar colocado, vai ter que apertar o cinto, e de que maneira.

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