terça-feira, 12 de janeiro de 2010

AAA em Descaramento



Já muito foi dito neste blog sobre o papel lamentável que têm tido as agências de rating. Agências independentes de qualquer fiscalização pública, nacional ou internacional, mas absolutamente dependentes dos interesses que se movem nos mercados financeiros. Por exemplo, aqui, aqui, e aqui. Também Nicolau Santos arrasou estas entidades no seu último artigo no Expresso:

"[...] a S&P avisou quatro países da zona euro de que o seu rating estava sob vigilância e, menos de uma semana depois, a três deles (Grécia, Espanha e Portugal) baixou-lhes o rating para AA+ sem apelo nem agravo. O quarto, a Irlanda, cujas previsões de recessão (-5%), défice orçamental (-11%) e situação do sistema financeiro são bem piores do que em Espanha e em Portugal, continua a manter a classificação de AAA. Também o Reino Unido mantém o triplo A, confirmado a 13 de Janeiro, apesar de em termos relativos a economia inglesa se ter afundado muito mais e da banca estar falida e à beira de ter de ser nacionalizada. Isto é injusto, incoerente, não tem qualquer justificação e afecta profundamente a vida dos cidadãos dos países a quem a S&P, como os imperadores romanos, decide que têm de pagar mais do que outros em situação pior. Além do mais, a S&P falhou redondamente na crise do crédito imobiliário nos Estados Unidos, tendo de rever, no mesmo dia, a notação de mais de 90 (!) activos financeiros ligados aquela área de actividade. E falhou no rating da AIG, da Lehman Brothers, da Islândia. Falhou, falhou, falhou."

Agora, um dos executivos da Moody's veio ameaçar Portugal com uma descida do rating, caso não fossem tomadas medidas "significativas e credíveis" no controlo do défice. É notável que as avaliações de agências que se celebrizaram por cometer erros do tamanho desta crise sejam agora utilizadas para justificar o regresso às políticas que nos trouxeram ao Estado actual.

A chatice é que as agências de rating já não valem o que valiam. Os erros de avaliação grosseiros, o escrutínio crescente sobre as suas motivações e o enviesamento ideológico evidente das recomendações destas entidades afectaram a sua credibilidade e arriscam-se a colocar as suas recomendações e "outlooks" ao nível dos do Zandinga. Aliás, os ratings tem seguido (selectivamente), mais do que propriamente previsto, as evoluções dos mercados de dívida e não parece que isso se vá alterar nos tempos mais próximos. Ainda bem que assim é. Hoje, uma das pré-condições para uma retoma económica sustentada e duradoura na Europa é a completa desacreditação destas agências e a sua substituição por entidades mais fiáveis, sob supervisão pública.

4 comentários:

Tiago Santos disse...

Vamos criar uma agência de Rating da credibilidade das agências de Rating...

Anónimo disse...

As agências de rating são um estupores, uns vendidos (ou uns comprados, se preferir), uns azelhas que nos tramam a vida.

Por que razão é que lhes dão atenção? Por que é perdem tempo com esses gambozinos?

Esqueçam!

Zé Miranda disse...

lol

pode ser verdade que sejam uns estupores. mas no contexto e no paradigma do capitalismo financeiro são os estopores que nos vão aumentar o preço da divida. a critica às agências terá certamente como alvo os responsáveis políticos pela organização institucional da economia e o papel que é atribuído a elas, não necessáriamente as próprias agências em si. Elas são já a consequência e menos a causa.

"AAA em descaramento" é muito bem esgalhado! looooool

Anónimo disse...

Pois, já cá faltava a culpabilização da classe política. Até ouvi dizer que a tão popular cantiga que aprendemos ainda crianças "Sebastião come tudo, tudo, tudo / Sebastião come tudo sem colher / Sebastião fica todo barrigudo / e depois dá pancada na mulher..." vai sofrer alterações. O projecto visa desculpabilizar o Sebastião e passar a responsabilizar os malandros do costume: a dita corja de energúmenos!