domingo, 16 de janeiro de 2011

A demagogia do cheque-ensino

"Importa assinalar a forma leviana, demagógica e superficial com que tem sido discutida, entre nós, a proposta do cheque-ensino. De facto, se todos os alunos de uma localidade, munidos do respectivo vale entregue pelo Estado, pretendessem frequentar a melhor escola que têm ao seu dispor, como ficaria a tão aclamada "liberdade de escolha"? Quem acabaria por escolher quem?
Não custa imaginar que, perante um aumento da procura superior à capacidade de oferta, as melhores escolas privadas (que pretendem legitimamente manter a sua reputação nos rankings) escolheriam os melhores alunos. Ao mesmo tempo que, com a transferência de fundos para o ensino privado, a pauperização e degradação das condições de financiamento e funcionamento das escolas da rede pública se veriam ainda mais agravadas, generalizando um sistema dual que hoje - apesar de todas as desigualdades económicas conhecidas - o sistema público tem, em certa medida, impedido."

(Do artigo de hoje, no Público)

11 comentários:

Jorge Martins disse...

Excelente artigo, caro colega geógrafo. Assino por baixo.

باز راس الوهابية وفتواه في جواز الصمعولة اليهود. اار الازعيم-O FLUVIÁRIO NO DESERTO disse...

a maior parte dos custos do público são custos fixos

as escolas privadas podem cortar facilmente nesses custos ou incrementá-los
e no número de turmas

houve muitas escolas privadas que ficaram com os alunos que mais ninguém queria

e não falo da casa do gaiato

logo essa conversa da excelência
também é demagogia do pior

cada um defende seus poleiros
é humano...é estúpido
mas é humano

o ensino público não

o cheque dentista também é demagogia
e serviu para alguns

باز راس الوهابية وفتواه في جواز الصمعولة اليهود. اار الازعيم-O FLUVIÁRIO NO DESERTO disse...

a pauperização e degradação das condições de financiamento e funcionamento das escolas da rede pública se veriam ainda mais agravadas

há 30 anos com menos recursos funcionavam praticamente na mesma
os recursos serviram para quê?

para o mesmo que as acções de formação de treta suponho?

serviram a alguns isso serviram

assim como as bibliotecas escolares
cheias a preço de ouro
com as sobras editoriais
que andam agora a saldo nas feiras

os livros de pedagogia feitos para o mercado discente e docente

nem às feiras chegaram
foram para cortes de papel

باز راس الوهابية وفتواه في جواز الصمعولة اليهود. اار الازعيم-O FLUVIÁRIO NO DESERTO disse...

há escolas privadas com 486 e pentium's I
os das escolas públicas em melhor estado alguns deles

foram para o ponto electrão

do mesmo modo que 20mil máquinas de escrever eléctricas

que foram vendidas para sucata
nos idos anos 90
algumas com 5 anos

é precisamos desses recursos no público
já que não os podemos despedir

até as psicólogas escolares
são peritas nos quilomicrons

apesar de estarem mais do lado
dos quilomorons...

a demagogia dos professores jornalistas

a isenção também é demagógica

Henrique Pereira dos Santos disse...

Fiquei baralhado.
Como as escolas passam a poder escolher os melhores alunos em vez dos alunos mais ricos (já que deixa de haver limitações económicas à escolha), isso limita a liberdade de escolha dos piores alunos, o que na sua opinião é intolerável porque o que é preciso que todos estejam nas mesmas escolas. É esse o argumento?
henrique pereira dos santos
PS E o que impediria a escola pública de ser melhor que a privada,como já hoje muitas vezes é?

Nuno Serra disse...

O problema, caro Henrique Pereira dos Santos, é que por acaso os melhores alunos são - na maioria dos casos - os mais ricos (veja por exemplo o último Boletim Económico do Banco de Portugal).
E realmente nada impede as escolas públicas de serem tão boas como as boas escolas privadas (note, já agora, que nem todas as privadas são boas). A tendência para melhores resultados nas privadas decorre do facto de serem escolas de élite (como o eram, em larga medida, as escolas públicas do Estado Novo) e de se localizarem sobretudo (3 em cada 4) na faixa litoral Norte (a "região" mais desenvolvida do país).
Mas tem razão num ponto: a transfega de verbas do ensino público para o privado (como defendem os apoiants do cheque-ensino e da inclusão das escolas particulares no sistema educativo público) compromete seriamente o esforço de melhoria generalizada dos estabelecimentos públicos de ensino.

Henrique Pereira dos Santos disse...

Já percebi o seu problema: quer impedir os bons alunos que não são mais ricos que escolher melhores escolas porque são uma minoria.
Este argumento já percebi.
Não percebo é porque razão é um problema desviar recursos para as melhores escolas (sejam elas públicas ou privadas porque oseu argumento de que as escolas privadas são melhores e mais requisitadas não está demonstrado).
O fundamental é haver bom ensino ou garantir escolas públicas?
Já reparou que ninguém se lembra de usar o mesmo argumento para as padarias, que garantem um bem mais essencial que a educação?
henrique pereira dos santos

Nuno Serra disse...

Henrique, cinco notas:

a) Uma vez implementado o cheque-ensino, não seriam os alunos a escolher as escolas mas sim as escolas (públicas ou privadas) a escolher os alunos (os melhores, naturalmente);

b) A aparente "liberdade de escolha" dos alunos produziria um sistema dual: bons alunos nas melhores escolas (públicas ou privadas), os outros nas restantes;

c) Uma escola não tem maus resultados necessariamente pelo facto de ter um mau desempenho (como referido, os contextos sociais em que se insere determinam em larga medida os resultados);

d) O papel do Estado não deverá ser, a meu ver, o de promover uma selecção natural de escolas, nem um sistema dual, mas sim o de capacitar os estabelecimentos de ensino para responderem de modo cada vez mais adequado ao meio em que se inserem;

e) A tendência para que as escolas privadas tenham melhores resultados decorre de razões em expostas no texto e as listas de espera das melhores demonstram o facto de terem uma ampla procura;

f) Fazer pão não há-de ser bem a mesma coisa que educar seres humanos. Pense um pouco nisso.

Caporegime disse...

Mas esse problema seria resolvido MUITO FACILMENTE:

Quotas.. quotas da distribuição de alunos por escola.. cada escola tinha que ter X% dos alunos do 15 ao 20, Y% do 10 ao 15 e Z% de alunos que reprovam... qual é a dúvida?

Anónimo disse...

não querendo entrar na discussão do cheque-ensino, o problema do sistema de quotas (qulquer que seja: negros, mulheres, etc) é que começa por um bom motivo e para repôr uma situação de desigualdade, acabando por provocar um discriminação em relação aos que entraram por quotas. ex: quotas de negros para entrar na universidade. parte-se do princípio (em bem) que, devido à História e ao meio onde vivem terão mais dificuldade em aceder no ensino superior, por isso facilita-se-lhes a entrada. até aqui tudo bem, algo próprio de um estado socialista. mas e aqueles negros que entraram por quotas, mas poderiam ter entrado por mérito próprio (irão sempre ser olhados como os coitadinhos que usaram a muleta do estado). eu sou mulher é penso que as quotas para mulheres só nos vem enfraquecer. se somos boas, somos mesmo, e não precisamos de um qualquer contingente a repôr a igualdade. o Estado não pode (nem pode querer poder) tudo.

Alvaro disse...

O cheque ensino paga a totalidade das propinas? Isto é, uma escola privada fica proibida de juntar mais um suplemento à propina acima do cheque ensino?
Se ficar, não se entende como é que uma escola bem colocada no ranking vai seleccionar os alunos que recebe.
Se não ficar continua tudo na mesma com a diferença de que os ricos pouparão algum e as escolas privadas receberão um pouco mais...