domingo, 16 de janeiro de 2011

Destruição sem sentido



A Lousã e Miranda do Corvo foram unidas por caminho de ferro a Coimbra e ao mundo há mais de cem anos. Durante um século dispuseram de comboio e depois de automotora. Por isso, ou por isso e outras razões, não conheceram o declínio demográfico dos concelhos vizinhos.

Agora a Lousã e Miranda de Corvo já não têm comboio nem automotora. As linhas de caminho de ferro foram arrancadas uma a uma, metódica e eficientemente (ver o extraordinário vídeo abaixo) e assim ficarão se nada for feito.




O que aconteceu? Prometeu-se uma modernização – o metro Mondego que ligaria a Lousã à “grande Coimbra” de forma confortável – e, quando vieram os PECs, parou-se a obra. Na paisagem ficou a ferida de um leito de via férrea descarnado à espera das enxurradas e da erosão.

Moro na Lousã, era passageiro frequente da automotora, o comboio faz parte da minha memória da Lousã. Sou um interessado. Ao mesmo tempo parece-me que a estória da Lousã e de Miranda é um caso exemplar, interessante para todos, que vamos ver muitas vezes repetido: serviços públicos encerrados, destruídos por “falta de verba”.

Os Lousanenses e Mirandenses estão a mobilizar-se, outros implicados no combate à destruição do transporte do futuro e de outros serviços públicos, deveriam juntar-se-lhes.

19 de Janeiro 13.30 Concentração na Assembleia da Republica em Lisboa

[Já agora também me parece que deixar de votar no dia 23 não ajuda nada; mais valia pedir aos candidatos que se definissem quanto ao futuro da linha da Lousã]

8 comentários:

Nuno disse...

Quase ninguém faz ideia mas 2011 vai ser dos anos mais destrutivos para a ferrovia nacional.

Fala-se de poupança e contenção mas importam-se carros em número recorde, o crude para gasolina representa quase 15% das importações e a família média gasta quase 1/4 em transportes. O comboio é o meio mais seguro, económico e eficiente...

Importa corrigir o post também com esta informação, que não é alheia ao descalabro financeiro da CP/REFER/METROs, que está a servir de mote para nos preparar para mais uma privatização desastrosa:

"O Metro do Mondego conta com sete administradores num universo de 12 trabalhadores que representam gastos de mais de meio milhão de euros."
Sete políticos em 12 trabalhadores...uma anedota

Nuno disse...

*link da notícia

http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/economia/metro-do-mondego-gasta-meio-milhao

Manolo Heredia disse...

A mim parece-me muito mais lógico reivindicar condições para o regresso das populações à terras servidas pelo comboio.
Não é que eu não goste de comboios-fantasma...

Zé Carioca disse...

"Put your money where your mouth is."

As reivindicações lousanenses, mirandenses e mesmo ceirenses deveriam incluir a exigência que o custo do projeto e da circulação no dito ramal sema inteiramente suportados pelos bilhetes que os utilizadores pagam. (Ou então bastam os custos operacionais.)

Ou então, o articulista monta uma sociedade, pede para ser ele a explorar a dita linha e fica rico

Nuno disse...

"exigência que o custo do projecto e da circulação no dito ramal sejam inteiramente suportados pelos bilhetes que os utilizadores pagam"

Concordo, mas só depois de todas as vias equiparadas a auto-estradas e SCUTS nas AMs de Lisboa e Porto também estarem sob o mesmo conceito, e já agora também todas as 8 auto-estradas actualmente com um tráfego diário de menos de 10.000 utentes/km, limite-último da rentabilidade.
E já agora também as próximas 3 concessões que vão custar mais de 3000 milhões (dá 1 BPN ou 6 submarinos ou cortes sociais de 1 OE2011).

Depois disso, tudo bem.

Jorge Martins disse...

Sou conimbricense de gema e, por isso, parte interessada na questão.
A verdade é que todo esta triste novela mostra:
1) que o Estado (e este governo em particular) demonstra um enorme desprezo pelos cidadãos: arrancar os carris para, supostamente, fazer o metro e, depois, deixar as populações sem comboio nem metro e não ter a corragem de assumir a decisão é uma "pulhice" (passe o plebeísmo);
2) que existem dois pesos e duas medidas quando se trata de Lisboa e (em menor grau) do Porto e de outras cidades do país, sempre em desfavor destas, com menor peso político;
3) que o Estado gasta rios de dinheiro em mordomias e sinecuras para os "boys" do Bloco Central sem que os projetos avancem, como se viu na defunta Sociedade Metro Mondego.

A. Pedro disse...

Um rapazinho iluminado botou umas sentenças a propósito deste assunto
http://jugular.blogs.sapo.pt/2428593.html

mas obtém aqui resposta http://www.aventar.eu/2011/01/17/metro-mondego-ramal-da-lous-e-poeira-para-os-olhos/

Anónimo disse...

Pois, o metro da margem Sul é um desastre finaceiro que à noite anda com 4 ou 4 gatos pingados. Rotundas e passagens aéreas foram às dezenas. Estes elefantes brancos regionais são uma maravilha.


João Paz