terça-feira, 22 de novembro de 2011

Ponto de situação

Os juros de curto prazo da dívida espanhola atingiram hoje novos recordes (5%) na emissão de dívida a três meses. Espanha é aquele país com uma dívida pública em percentagem do PIB inferior à Alemanha, que, até 2008, tinha consecutivos superávites orçamentais, indicando como a posição orçamental está dependente do ciclo económico.

A narrativa da irresponsabilidade orçamental para a crise na periferia já não cola. Espanha junta-se assim à Itália, cujos juros nos títulos a 10 anos estão agora nos 6,6% (6,55% para Espanha) no mercado secundário. No entanto, tudo parece diferente entre estes dois países. Espanha tem uma dívida pública relativa ao PIB que é quase metade do tamanho da italiana. Espanha cresceu na passada década, à conta de uma bolha no sector imobiliário é certo, enquanto Itália estagnou. Como podem estes dois países enfrentar os mercados financeiros em igualdade de circunstâncias? O que Espanha e Itália têm em comum (e que, já agora, partilham com Portugal e Grécia) é a perda de competitividade externa desde que entraram no euro, traduzida em constante degradação das suas contas externas (défices cada vez maiores). E aqui os papéis invertem-se: graças à sua capacidade industrial instalada, Itália tem sofrido um agravamento do défice externo mais lento do que o da restante periferia. Concluindo, será que agora podemos abandonar o moralismo das contas públicas e começar a perceber que esta crise é uma crise do euro?

Por mais que se queira ignorar esta realidade, se ela não entra pela porta, entra pela janela. Assim, o que se tornou agora evidente é a incapacidade institucional europeia para conseguir lidar com esta crise. O fundo europeu não tem capacidade para acorrer a estes países, enquanto o BCE parece apostado na defesa da sua linha Maginot (a inflação), não se dando conta que, dentro em breve, estará a defender o valor de uma moeda que não existe (esta expressão é do Paul Krugman, que eu, qual diletante, roubei). Fala-se, entretanto, de uma intervenção musculada do FMI, financiada pelo BCE. A seguir com atenção.

1 comentário:

João Carlos Graça disse...

A Irlanda até nem tinha problema de défice de contas públicas... mas foi ao tapete.
A Espanha tem uma dívida pública irrisória... mas vai ao tapete.
A Itália até se safa em produtividade das exportações, mas tem o PIB em "estado estacionário" há uma década... e vai ao tapete.
Da Grécia e de nós, claro, nem falar.
Os franceses, entretanto, estão a ficar ligeiramente inquietos: http://www.lepoint.fr/economie/la-zone-euro-au-bord-de-la-dislocation-18-11-2011-1397815_28.php
E é bom que fiquem...
Entretanto, o Nuno, "diletante", continua muito mais lúcido do que carradas e carradas de tipos "sérios" que eu conheço ("all shades and colors"...). E sublinha, claro, o incontornável: a questão da sobrevalorização continuada, os défices de contas externas... e finalmente a demência cesárea dos defensores duma "moeda mundial" com pés que nem de barro são. Nem de esferovite, em boa verdade.
Pergunto-me por onde é que isto tudo rebentará...