terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Novo livro da colecção Pingo Doce

O livro a que o João Rodrigues se refere no post anterior, editado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, estará brevemente disponível e conta com um prefácio de António Barreto.

O autor, Alexandre Soares dos Santos, foi considerado pela Forbes em Março de 2011 o segundo português mais rico, apenas antecedido por Américo Amorim, um singelo trabalhador da área da cortiça. Consciente da situação que o país atravessa, Alexandre Soares dos Santos explica neste livro o enquadramento legal subjacente ao processo de transferência para uma sede, na Holanda (onde estão sediados vários offshores), das acções que a família detinha na Jerónimo Martins, e o modo como se solidariza, assim, com «as dificuldades que o povo está a atravessar» (como referia numa entrevista recentemente concedida a Fátima Campos Ferreira).(*)

No prefácio, António Barreto discorre uma vez mais sobre a falência do Estado social, reiterando que «há direitos que não são compatíveis com a crise» e critica a Constituição, na qual «o cidadão português tem todos os direitos e mais alguns». A Pordata comemorará o lançamento deste livro activando um daqueles «simuladores ao segundo» em que, em vez do aumento da despesa pública em saúde ou educação, surgirá o valor das perdas de receita que resultam dos expedientes de «deslocalização fiscal» a que recorrem muitos dos grandes grupos económicos nacionais.

(*) Percebe-se hoje o verdadeiro alcance de uma frase de Alexandre Soares dos Santos nessa mesma entrevista: «vamos dar corda aos sapatos».

19 comentários:

Helena Araújo disse...

Em três breves palavras:
clap clap clap

Dias disse...

A forma como a chamada União Europeia está construída é uma completa aberração, e o Portugalzinho periférico e subserviente é sempre apanhado na curva. Há sempre justificações para as inevitabilidades, neste caso é a de haver países que funcionam com off shores…Confirma-se cada vez mais que esta UE só interessa a uma minoria de gente.

Sobre a “Ética e a Fuga ao Fisco”, a resposta mais à mão é o boicote.

“Há direitos que não são compatíveis com a crise…Tem direito à saúde e educação de graça, à habitação…”.
Para o sociólogo do Pingo Doce (e meu inimigo de classe), a crise é um fenómeno que caiu do céu, uma abstracção. Além de mais, é confuso, vá lá, mentiroso: onde é que a saúde, a educação, a habitação, são de graça, em Portugal?!

Anónimo disse...

já agora, pq ele precisam de ser desmontado: http://economia.publico.pt/Noticia/venda-da-jeronimo-martins-a-subsidiaria-holandesa-sem-implicacoes-fiscais-diz-accionista-1527333

Tripalio disse...

Um belo livro para o António Barreto escrever a partir de uma situação da vida real - ele que tem tanta ética para dar e vender!

Tripalio disse...

Um livro que o António Barreto pode e deve escrever - ele que tem carradas de ética para dar e vender!

Anónimo disse...

António Barreto é um vigarista, intelectualmente desonesto.
O Tratado de Maatricht foi feito para defender os interesses das altas burguesias. Se querem ler mais liguem para o blog
http://anticolonial21.blogspot.com/

João Sousa disse...

A única responsabilidade de uma empresa é dar valor aos seus accionistas. Portanto, o que a Jerónimo Martins fez não só é ético, como respeitável.

Os meus parabéns à Jerónimo Martins — teve a coragem de fazer aquilo que deve para proteger os interesses de quem tem de defender: os seus donos, as pessoas que de facto puseram lá o seu dinheiro para que a empresa de facto exista. Hipócrita é quem critica a atitude da Jerónimo Martins.

e-ko disse...

João Sousa,

é espantoso... então, a unica responsabilidade de uma empresa é dar valor ao accionista... você tem uma ideia muito retrógrada (que já é do sec. XIX) do que deve ser uma empresa neste início do sec. XXI, o que faz das responsabilidades ecológicas, das responsabilidades fiscais, das responsabilidades para com as pessoas que nela trabalham e a responsabilidade para com os cidadão do país onde a sua fortuna tanto cresceu e que tão caro estão a pagar tanta fuga ao fisco e tantos cambalachos bancários!...

Claudia Sousa Dias disse...

É preciso ter lata para defender este tipo de atitude; quando os portugueses estão a rebentar pelas costuras, quem mais pode foge com rabo à seringa. Os sacrifícios devem ser para todos.

Ao Sr. João, só tenho uma coisa a dizer-lhe "antes hipócrita do que cínico"!

Pelo menos o hipócrita, apesar de falso, ainda tem um resquício de consciência social que o leva a mentir. Mas pode sempre ser desmascarado pelas suas atitudes.

O cínico, arroga-se da impunidade.


CSD

Paladino disse...

Ao João Sousa: a expressão "stakeholders" diz-lhe alguma coisa? Não?! Bem me parecia...

Anónimo disse...

Caro João Sousa,

como a maioria dos comentadores hoje na TSF,não percebeu o que aqui está em causa.
O que Soares dos Santos fez não é ilegal, é racional e é corriqueiro na gestão de grandes empresas em qualquer parte do mundo.
No entanto, o que não se compatibiliza com a acção racional deste senhor é a verborreia moral e ética que andou a emitir por tudo o que era orgão de comunicação social neste pais antes de ter feito o que fez.
Porque o que este senhor fez ,com esta acção racional, contraria todo o seu discurso. e das duas uma : ou o dito senhor sofre de uma esquizofrenia agúda ou é um valentissimo hipócrita e mentiroso.
Penso ser a segunda hipótese que se aplica e que está de facto a chocar as pessoas.
Para quem de facto se rege pelos princípios morais e éticos que apregoa em publico parece-me liquido compreender isto.
Para quem não têm os ditos principios ou não têm a noção correcta do que eles implicam, é mais um a fazer pela vidinha.

João Carlos Graça disse...

Parabéns pelo post, Nuno!
Entretanto, caros e-ko e Cláudia Sousa Dias, a respeito do João Sousa, e se me permitem, lembrem-se de que "quem diz a verdade não merece castigo". Tomemos pois consciência, a respeito do Alexandre Soares Santos e do António Barreto, de qual o verdadeiro calibre dos animais com que estamos a lidar... e procedamos em conformidade.
Queremos ter verdadeiramente "ética", "responsabilidade ecológica", "fiscal" e afins para com os nossos concidadãos? Bom, então tratemos de compreender qual a verdadeira natureza dos empresários/piratas aos quais se continua a baixar todos os dias a cerviz - empresários, sim, no sentido Renascentista e sombartiano do termo; empresários também no sentido schumpeteriano, obviamente apostados em destruir-nos como forma de alegadamente poderem de forma dionisíaca construir algo de completamente novo e "vital" por cima dos cadáveres de milhões de losers e suckers - e dos "sociólogos" (talvez sem aspas, quem sabe...) cujo modo de vida consiste em “trabalhar”, “tripaliando” outros, a soldo (aqui sem aspas: a soldo em sentido estrito) dos tais empresários.
Pretender ir "argumentar" com feras, convencê-las da "responsabilidade social", ecológica e coisa e tal - e levar gente atrás, gente que fica desavisada porque e na medida em que confia nessa nossa temeridade - consiste, na melhor das hipóteses, e para roubar a expressão ao João Rodrigues ("ladrão que rouba a ladrão..."), em ficar a discutir pentelhos.
Mas tem também efeitos ainda piores, de mistificação, de perda de lucidez, de indução à pataratice política e intelectual, relativamente aos quais tenho, confesso, cada vez menos paciência.
Ao pé disso, e por comparação, venha a honestidade provocatória do João Sousa. Não queremos ser "suckers"? Sejamos então homens, em suma, em vez de nos conformarmos a proceder como galinhas. (Bem sei, bem sei, este dito é hoje em dia com toda a probabilidade considerado politicamente incorrecto, mas, que querem, também para a isso tenho cada vez menos paciência...).

Curioso disse...

A nossa opinião sobre o tema está aqui. Não concordamos com a hipocrisia dos que criticam agora a decisão tomada mas que à primeira oportunidade fogem ao pagamento de impostos.

Anónimo disse...

Curioso, têm toda a razão. O problema é que o senhor Soares dos Santos fez isso mesmo : criticou a outros o fazer pela vidinha, quando ele próprio o faz.
Hipócrita que chama hipócritas a outros é o quê?
Todos nós podemos fazer pela vidinha mas pelo menos tenhamos a decencia de não vir dar lições de moral que não sabemos seguir. Pessoas deste calibre são bem piores que os mentirosos, porque acreditam piamente que não estão em falta nem em contradição, que o juizo moral que aplicam aos outros não se aplica a eles porquê acham estar imbuidos de uma aura de impunidade. E isso não é verdade nem pode passar em claro aos olhos da opinião pública.Como se costuma dizer, o exemplo deve vir de cima, se quem está acima não é tão imaculado como as palavras que lança aos outros fazem crer , então têm de ser exposto pelo embuste moral e ético que é.

Curioso disse...

Caro anónimo. Está correcto no que diz em relação aos aspectos morais mas não existirão exemplos que vêm bem mais de cima e que não foram alvo de reparo. Ninguém disse que ia retirar os dinheiros da CGD quando ela anunciou que ia sair da Madeira para ir para as ilhas Caimão! Parece-nos que estão a usar esta situação como bode expiatório quando há tantas mais coisas que poderiam ser criticadas.

Anónimo disse...

Bem, mas o António Barreto é isso mesmo: um autêntico Barrete, perdão, Barreto.
Em vista disto tudo, vai-se compreendendo a campanha que tem vindo a ser feita para este Sr se candidatar á presidência da republica.
Vejam lá como seria a publicidade enganosa do P.D.

Tripalio disse...

O Alexandre Soares dos Santos teve medo que lhe aplicassem uma lei do Sócrates sobre o dividendo.

Além disso, esse senhor em 2011 foi caçado pelo fisco por causa do seu planeamento fiscal agressivo.

Chega de falsa moralidade, de empresários que sempre viveram à sombra do estado!

R Dias disse...

Caro João Sousa, apoio o seu comentário.

A mim espanta-me como esta operação não foi efectuada à mais tempo, tendo em conta a quantidade de empresas que já o fizeram.

Boicotes?!? Deixávamos de comer, comunicar, etc...

Anónimo disse...

Caríssimos: a questão que eu gostaria de ver respondida é porque é que a Holanda é fiscalmente mais competitiva que Portugal... Porque é que, simplesmente, não podemos nós adoptar a fiscalidade holandesa no aplicável a esta questão e tornarmos-nos então, pelo menos neste aspecto, tão atractivos como a Holanda?
Obrigado e cumprimentos.