segunda-feira, 18 de junho de 2012

A linha na areia

«Quando duas partes negoceiam, a interacção entre elas comporta um benefício mútuo em potência e uma dimensão de conflito. (...) Por isso, quando a negociação conduz a um acordo (...), consegue-se um benefício para ambos e resolve-se um potencial conflito. (...) Contudo, a negociação só faz sentido se ambas as partes tiverem algum poder para negociar. E o que é que determina esse poder? A resposta simples é: a disponibilidade para traçar "uma linha na areia" e a vontade resoluta de abandonar as negociações caso essa linha seja transposta. (...) Se uma das partes não conseguir definir de antemão as circunstâncias em que prefere rejeitar a oferta do outro, (...) as negociações são inúteis. O partido que não consegue imaginar-se a dizer "não", deve desistir da negociação e, simplesmente, optar por suplicar ao outro lado, apelando à sua bondade, generosidade e, em casos desesperados como o da Grécia, ao sentido de misericórdia.»

Excerto do texto que Yanis Varoufakis escreveu há três dias atrás e que estabelecia, de modo muito claro, o que esteve em jogo nas eleições gregas de ontem. A escolha entre um partido (Syriza), que prometia negociar um novo quadro, radicalmente diferente, de condições de assistência financeira; e dois partidos (Nova Democracia e PASOK), para os quais qualquer simulacro de acordo com a troika seguramente servirá. Justamente porque estes dois partidos (que, face aos resultados eleitorais obtidos, é quase certo acabarão por se coligar), sempre estiveram determinados «em não traçar nenhuma linha na areia», como bem sublinha Varoufakis. Isto é, distantes de qualquer espírito, genuíno e determinado, de negociação. Circunscritos - por subserviente decisão própria - às míseras e ilusórias migalhas que a súplica lhes puder render.

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