sexta-feira, 12 de abril de 2013

O Gaspar do direito?

Fiquei a saber que Poiares Maduro acha que salvar o euro é o maior desafio da Europa (eu pensava que seria combater o desemprego, mas a verdade é que o “sonho” europeu destas elites parece valer bem o pesadelo de milhões de desempregados). Fiquei também a saber, através de mais uma inenarrável peça de Eva Gaspar, que Maduro já garantiu que o PIB islandês até caiu cerca de 40%, graças à crise financeira. Consultando as estatísticas islandesas concluo que caiu um total de cerca de 10%, em 2009 e 2010, e que a recuperação já se iniciou, com os níveis de desemprego conhecidos, ou seja, nunca se ultrapassou os 8% (Portugal antes do euro era assim em termos de taxa de desemprego). É claro que Maduro fala do rendimento medido em dólares, o que diz muito sobre a natureza de classe do seu raciocínio (sempre preocupado com quem viaja e com quem importa carros e tal) e o que obviamente toma em conta a vital desvalorização da moeda islandesa (para ajudar ao mais rápido ajustamento da economia). Medida desta forma a crise nem se vê em Portugal, até porque o euro se valorizou (a crise não existe para quem tem emprego garantido sem cortes e viaja muito para os EUA). É claro que para quem vive na Islândia essa medida tem pouco significado. O que conta é mesmo a evolução do rendimento real, do rendimento nominal descontada a inflação. De resto, este tipo de exercício diz muito sobre o tipo de argumentos que demasiados defensores do euro fazem e sobre os jornalistas que os reproduzem com tanto entusiasmo. Temos mais um para sacrificar o país em nome dos amanhãs europeus que cantam. Isto não vai correr bem.

13 comentários:

José M. Sousa disse...

Pois, mas essa questão também poderia ser colocada a Fancisco Louçã, por exemplo.

Pedro Malaquias disse...

Poiares Maduro conhecerá certamente melhor a realidade islandesa que outros...

Carlos disse...

Pois, tb acho que a coisa não vai correr nada bem. Isto promete...

Anónimo disse...

Como sempre o João desmonta as petições de princípio que estes raciocínios "brilhantes" nos trazem.

R.B. NorTør disse...

Esse deve ser dos tipos que ficou escandalizado com a atitude "nao pagamos" dos islandeses...

Se for para "sofrer como um islandês" até suporto uma queda de 100% do PIB. O sofrimento deles comparado com o nosso, infelizmente parece o paraíso.

Anónimo disse...

Poiares Maduro Professor Catedrático.?
Nunca ouvi falar nem lhe conheço obra.
Porém, se for como o Alvaro não sei quê, ou como o Gaspar ou como o Coelho - tudo grandes crâneos - então o país, finalmente, está salvo. Chiça estava a ver que nunca mais.!
Dizem que este Maduro sabe umas coisas de Direito Europeu - ensina em Florença, não é ? - por isso vai ser uma maravilha. O homem vai descobrir alguma coisa nos tratados europeus que nos possibilite dizer aos tipos da troika que afinal os Portugueses podem ser esmifrados até ao tutano.
Grande Maduro que este tipo nos vai sair.

Anónimo disse...

Tem-se feito muita informação e contra- informação sobre a realidade
do que se passa na Islândia pela imprensa portuguesa dependente e medíocre . Precisamente por não pertencera UE A Islândia teve a possibilidade de recuperar da crise de forma satisfatória.

sergio amaral disse...

Mais do mesmo portanto....

José T. de Sousa disse...

É preciso contar com a desvalorização da moeda na queda do PIB, principalmente se se importa a maior parte das coisas, como é o caso de pequenos países. Por isso medir com referência ao dólar é mais rigoroso do que medir em relação a moeda local que desvalorizou depois. Porque mede melhor a perda do poder de compra. A solução Islandesa foi mais corajosa que a nossa mas muito mais dura.

Anónimo disse...

anónimo 16.06:
É pena que Portugal esteja metido nesta alhada da UE e do Euro. Se não estivessemos na UE e no euro, podiamos ultrapassar isto de outra forma e sem perda da dignidade.Isto, claro, se não estivessemos - como estamos - a ser governados por um bando de loucos.

João Carlos Graça disse...

Caro João Rodrigues
Vinte valores. É o que se chama ir à jugular do problema. E tudo condensado num pequeno parágrafo, caramba!
A objecção inicial do José M. Sousa é, porém, de toda a pertinência. Não há, infelizmente, volta a dar-lhe.
Quanto ao José T. de Sousa: olhe que sim... mas olhe que não. "A solução Islandesa foi mais corajosa que a nossa"... e também muito menos dura. A nossa é, por comparação, avestruzianamente covarde... e tremendamente masoquista.
Ah, sim, excepto "para quem tem emprego garantido sem cortes e viaja muito para os EUA", é verdade, claro.
E nós, outros, forçados a levar com isto e a termos de aturar políticos da situação - e das "oposições" - que no fundamental o que fazem é debitar "madurezas" destas...

douro disse...

http://nortadas.blogspot.be/2013/04/ainda-nao-e-desta-que-o-chamam-sr-pires.html#comment-form

R.B. NorTør disse...

@José T. de Sousa

Penso compreender o que estás a dizer, mas não me parece que tenha sido mais dura que a nossa. Há uma certa liberdade em estar fora da Zona euro (que é diferente de estar fora da UE) que os islandeses têm de facto. A verdade é que para a UE a Islândia preparava-se para ser um novo Chipre (basta ver quem foram os que mais ficaram a arder com a falência do Icesave), de tal forma que até lhe acenaram com o tal processo de adesão que ficaria mais dificultado. Como já foi dito, a solução islandesa é, por uma grande margem, mais corajosa que a nossa, uma vez que não têm nem os recurso, nem a área, nem a localização que nós temos.

Por outro lado, ninguém diz (espero! eu não) que a transição islandesa foi feita sem perda de qualidade de vida. Aliás, os islandeses são os primeiros a dizê-lo! O que sucede é que o impacto geral na sociedade foi largamente menor ao que está a ter na sociedade portugesa, daí que seja muito menos doloroso.