segunda-feira, 13 de maio de 2013

Dos sacrifícios e de outras fraudes


Realmente, todos têm de fazer sacrifícios, em especial esse génio da gestão global que se chama António Mexia: os presidentes executivos do PSI-20 receberam em 2012 mais de 15 milhões de euros, um aumento de 6% face ao ano anterior (mais 4,9%, em média, para os membros de 19 comissões executivas do PSI-20). Quando também sabemos que as remunerações médias dos trabalhadores portugueses caíram, entre reduções salariais e perdas de emprego, 7,2%, enquanto que os rendimentos dos activos registaram um comportamento quase simétrico, confirma-se o que dizia o grande economista John Kenneth Galbraith: “Para muitos, e em especial para os que têm voz política, dinheiro e influência, uma depressão ou uma recessão está longe de ser penosa. Ninguém pode confessar isto abertamente; em certas coisas há que discreto, mesmo do que revelamos de nós próprios”. Confirmam-se também outras ideias de Galbraith: atrás da fraude do “mercado livre” esconde-se a realidade da grande empresa capitalista e das suas estruturas de poder; estas estruturas, em especial quando estão associadas à fraqueza dos freios estatais e dos contrapesos sindicais, explicam os rendimentos de quem está no topo da cadeia alimentar e não um suposto mérito que, vá lá perceber-se porquê, costuma ser confundido com os montantes arrecadados.

José Reis, no âmbito de mais um ciclo organizado por estudantes de economia, irá discutir, esta quinta-feira, o pensamento de John Kenneth Galbraith.

3 comentários:

José Couto Nogueira disse...

Não percebo a raiva que vocês têm ao Mexia! (Declaração de interesses: não sou amigo nem familiar dele, não tenho quaisquer interesses relacionados com ele e pago a conta da EDP como toda a gente.) O Mexia é administrador de uma multi-nacional que gere milhões nos Estados Unidos, Espanha, França, Polónia e Angola (além de outros que não sei); e o salário dele é determinado pelos accionistas. Não vejo como, num estado de direito, se possa ir contra isso - a não ser taxando o que ele recebe ao máximo de IRS, o que com certeza já se faz. Está a parecer-me que o único problema é a velha inveja...

Rui Silva disse...

Caro José Couto Nogueira,
O problema é a desigualdade. Se o chão de fábrica recebesse o merecido (e não o salário mínimo em Portugal não é digno, apesar de legal) talvez os de topo recebessem menos... Mas sinceramente o que os gestores de topo recebem pouco interessaria se os empregados de base recebessem um salário digno, que lhes permitisse ter: liberdade, sonhos e segurança. Se alguém trabalha 8 horas por dia 5 dias por semana isso deveria ser garantido.

Outro problema é que a electricidade em Portugal é a das mais caras da Europa, então há algo aqui que não faz sentido nenhum.

José Couto Nogueira disse...

Caro Rui Silva. Como princípio, acho que tem toda a razão. Acho mesmo que deveria haver um "cap", um limite entre o mínimo e o máximo, por lei. Não adianta muito, uma vez que há os bónus, mas os bónus teriam de ser decididos ano a ano pelos accionistas, o que certamente limitaria os excessos. Acho, mas não tenho a certeza. Agora, no caso concreto da EDP, onde nunca trabalhei mas conheço de perto, creio que os salários são bons a todos os níveis - dentro da baixa média portuguesa, é claro. Repare que, apesar de enorme, é uma empresa especializada, não tem operários não especializados (apenas alguns serventes e de limpeza nas centrais). Não digo que o Mexia não mexa as suas influências políticas para manter os preços exorbitantes, mas isso é outra conversa; ele faz o papel dele, os governantes é que não fazem aquilo para que foram eleitos!