sábado, 8 de junho de 2013

Tapar o fracasso com a chuva

 «O investimento no primeiro trimestre deste ano é adversamente afectado pelas condições meteorológicas nos primeiros três meses do ano, que prejudicaram a actividade da construção» (Vítor Gaspar, ontem, na Assembleia da República, durante o debate do Orçamento Rectificativo).

Uma vez mais a realidade encarrega-se de desmentir de imediato o ministro das Finanças, cuja desfaçatez parece não conhecer limites. De acordo com dados recentes do «Inquérito Qualitativo de Conjuntura à Construção e Obras Públicas» (realizado mensalmente pelo INE junto dos empresários do sector), a insuficiência da procura é o obstáculo mais referido pelos inquiridos (85%) no primeiro trimestre de 2013, seguindo-se a deterioração das perspectivas de venda (58%) e a dificuldade na obtenção de crédito bancário (54%).

As famosas condições climatéricas desfavoráveis, que segundo Gaspar teriam sido responsáveis pela quebra do investimento e pela contracção da economia nos primeiros meses do ano, surgem na cauda da tabela (sendo referidas por apenas 5% dos inquiridos), antecedendo a dificuldade em recrutar pessoal qualificado (obstáculo assinalado por apenas 4% dos empresários do sector). Este último dado demonstra também, aliás, uma outra fraude, recorrente, dos acólitos da austeridade: pelos vistos não é difícil convencer desempregados a deixar as suas «zonas de conforto», supostamente proporcionadas pelo subsídio de desemprego e demais apoios sociais.

6 comentários:

Dias disse...

O gráfico desmonta Gaspar!
Mas a que construção se referia Gaspar, que nós desconhecemos?!
O mês de Março foi de facto anormalmente chuvoso, mas não os dois primeiros do ano. A estagnação já vinha de trás, e não é um mês chuvoso que iria estragar os planos, interromper uma dinâmica, se a houvesse…

Anónimo disse...

Bom post!

Anónimo disse...

Já se sabia da interferência que terá tido Nossa Senhora de Fátima na aprovação pela Troika da 7ª revisão do Acordo. Agora ficaram conhecidas as responsabilidades de São Pedro nos resultados da economia portuguesa no primeiro trimestre de 2013 depois da intervenção do Ministro das Finanças na discussão do Orçamento Rectificativo onde afirmou que o investimento caiu drasticamente (-16,8%) no primeiro trimestre por causa das condições meteorológicas.
Em face desta importante inovação na teoria económica e para retirar dos números a influência externa de São Pedro, vai ser oficialmente introduzido nos dados sobre a contribuição do investimento para o valor do PIB o Coeficiente Meteorológico de Gaspar, um factor de correcção do valor do investimento para ocorrências meteorológicas desfavoráveis. Este coeficiente deverá também ser introduzido, para maior rigor dos resultados, como factor correctivo da variável investimento na fórmula de Keynes.

José Guinote disse...

Os dados aqui trazidos pelo Nuno Serra referem-se apenas à actividade de construção de edificios para venda. Essa é, como mostram os dados do INE, influenciada sobretudo pela procura. Basicamente sem compradores pelo menos potenciais não há construção. Os elevados spreads, a perda de poder de compra das famílias, a incerteza perante a evolução do país, o espectro do desemprego, a fiscalidade sobre o imobiliário/IMI,IMT) a consciência de que a eterna valorização dos produtos imobiliários era uma fraude, tornam a procura uma miragem. Mesmo com sol, com muito sol. Mas há uma outra componente importante que é o sector da construção que está envolvido nas obras públicas. Esse sector foi desmantelado já que este Governo parou completamente o investimento em obras públicas. Há investimento público neste sector que é importante do ponto de vista da resposta a necessidades sociais várias e é virtuoso do ponto de vista económico, por gerar novos investimentos, criar empregos e aumentar a competitividade das empresas. Outro investimento como o feito nas PP´s é inútil, é gravoso para a economia já que gera rendas especulativas que sugam recursos necessários para a actividade económica. Como se sabe o Governo limita-se a fazer de conta que está a reduzir estas rendas. Não está porque não quer nem pode. O Governo representa os detentores das rendas e não tem mandato para os prejudicar em benefício do pais. O investimento que está agora a realizar-se tem mais a ver com o ciclo eleitoral autárquico e aí infelizmente a corrupção, a começar logo no tipo de concurso e nas adjudicações, não augura nada de bom. Por mais que chova Gaspar e os seus acólitos não encontram em S.Pedro o aliado de que tanto necessitam para esconder a sua colossal incompetência e o carácter errado das suas opções políticas.

Anónimo disse...

Será que é possível disponibilizar um link para os resultados do inquérito de onde esse gráfico surge?
Procurei no site do INE mas a única coisa que encontrei foi o inquérito para preencher...
Obrigado.

Nuno Serra disse...

Caro Anónimo,
Aqui vai o link para a página com os dados do inquérito:
[http://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_indicadores&indOcorrCod=0000156&contexto=bd&selTab=tab2]