terça-feira, 12 de maio de 2015

As «instituições» e a Grécia: entreter até derrubar

Com o decorrer do tempo, a estratégia das «instituições» para vergar o governo grego foi-se tornando cada vez mais evidente. Logo de início, numa acção concertada com Mario Draghi, tratou-se de apertar na dose certa o torniquete do BCE, por forma a limitar o acesso da banca a financiamento, para desse modo estimular a fuga de capitais e assim fragilizar ainda mais a economia grega.

Paralelamente, depois de um momento inicial em que se cultivou a ideia de que as negociações assentariam no empenho mútuo em conciliar legitimidades e interesses distintos, passou-se para o entreter do governo grego numa sequência infindável de reuniões técnicas e políticas, postergando sempre para o encontro seguinte a possibilidade de chegar a acordo. Isto é, de celebrar o compromisso necessário para que a Grécia possa aceder à tranche que a troika lhe deve desde Agosto do ano passado (7,2 mil milhões de euros).

Nos termos desta estratégia, que tem como objectivo ir deixando que o Estado e a economia grega se esvaiam em falta de liquidez, o governo acabará - cedo ou tarde - por ter que fazer a escolha entre ceder ou cair, sucumbindo em qualquer dos casos à frustração e revolta do eleitorado pelas promessas não cumpridas. Depois da demissão ou do derrube, basta então substituir o executivo de Tsipras por um governo de mangas de alpaca, devidamente liderado por um qualquer tecnocrata obediente. Neste quadro, o único dado que tem falhado na equação das «instituições» para o «problema grego» é justamente o do apoio popular ao governo do Syriza, que não só se manteve como viria até a robustecer a sua base social de apoio.

Ninguém sabe hoje até quando - e como - poderá a Grécia resistir. Sobretudo quando se considera o volume de liquidez necessário para gerir a dívida nos próximos meses e todas as pressões e constrangimentos que pendem sobre a economia grega (Estado incluído). Não é por isso improvável que o governo de Alexis Tsipras, de uma forma ou de outra, acabe por sucumbir.

Desengane-se contudo quem pensa que as «instituições» saem incólumes deste processo. São demasiadas as perplexidades que se foram acumulando: da ausência de qualquer explicação para o fracasso colossal da receita da austeridade, na Grécia como aqui, à evidência cada vez maior de que apenas o governo grego foi cedendo (até chegar ao osso intransponível das suas linhas mais vermelhas), passando pela percepção de que as divergências deixaram há muito de ser «técnicas» para se circunscreverem a uma esfera puramente política (como demonstra, com clareza, o comunicado da reunião de ontem do eurogrupo). A máscara de respeito pela democracia e pela legitimidade das escolhas dos povos e dos seus governos foi portanto caindo aos poucos. Para quem tivesse dúvidas, as «instituições» europeias foram revelando a sua verdadeira face.

13 comentários:

Anónimo disse...

Não há nada para negociar com as instituições europeias, ou aceitam a civilidade ou o projecto politico europeu não tem razão de existir, as pessoas não podem assistir impávidas e serenas perante a implantação de regimes que tem como elemento central a desvalorização do ser humano.

maria disse...

...então se não há democracia pois não se respeita a vontade dos povos, HÁ O QUÊ??!!! fascismo.

R.B. NorTør disse...

Caro Nuno, acho que o seu parágrafo final sobre as cedências encontra apenas ecos parciais na sociedade.

Se por um lado o crescente apoio que os movimentos anti-Europeus vão colhendo pode ser lido como uma tradução do descontentamento face a essa atitude das instituições (das quais o Conselho vai passando por entre a chuva como se não existisse), por outro lado, nos países economicamente mais fortes, e que portanto mais benefici(ar)am com o aperto aos gregos, esses movimentos não raras as vezes propagam a mensagem de os problemas dos gregos são dos gregos e apenas deles. (Quem diz gregos diz outros quaisquer...)

Ora, esta atitude faz com que as conclusões do Nuno, e nas quais me revejo de resto, não estejam a ser entendidas da mesma forma por toda a gente. Até em Portugal, o primeiro país não helénico que poderia beneficiar de um "sucesso" grego, o apoio a essas conclusões é restrito a uma minoria, com uma larga fatia a rezar com muita força pelo falhanço grego e a apregoar que os "malandros" não querem ceder.

Assim sendo, o meu aplauso e força aí a tentar passar a mensagem. Esperemos que chegue antes da nossas legislativas...

Unknown disse...

Tanta arrogancia até doi.

Jose disse...

«respeito pela democracia e pela legitimidade das escolhas dos povos e dos seus governos foi portanto caindo aos poucos»

Excluída a pura estupidez, o que pode levar alguém a acreditar que o voto vincula outros meios e outros agentes que não os próprios?

Só mesmo a parvoeira da esquerda pode dizer tais disparates e ter garantido o apoio da tribo esquerdalha!

Anónimo disse...

Mais um comentário típico.

Esta frase:«respeito pela democracia e pela legitimidade das escolhas dos povos e dos seus governos foi portanto caindo aos poucos»

merece este texto do das 00 e 13 :

-"Excluída a pura estupidez"...

As perguntas impõem-se: o que quer dizer exactamente este "jose" com isto? Como o demonstra?Com o arrazoado que diz a seguir? Mas ele é o primeiro a afirmar que o que vem a seguir exclui o que disse sobre a "pura estupidez? Em que ficamos? Ou afinal isto não se trata dum comentário mas é apenas o reflexo pavloviano doutras coisas e doutras loisas bem mais sinistras?

Há mais:

-"o que pode levar alguém a acreditar que o voto vincula outros meios e outros agentes que não os próprios?"
questiona-se o mesmo, entre a "pieguice" e a pseudo-indignação ( os qualificativos são meus)
Se o sujeito tivesse tido a honestidade de ler o comentário de Nuno Serra ( ou o tivesse percebido ou o não tentasse manipular), veria que o que é denunciado no post é a tentativa de forçar a queda dum governo eleito em troca dum outro de tecnocratas. A questão é suportada por dados objectivos e NS tem o cuidado de os citar:

"Merkel e Draghi discutem bancarrota e substituição do Governo Tsipras por um de tecnocratas"
(ver o link)

A que propósito estes dois interferem assim nos interesses internos da Grécia? Só mesmo alguém muito extremista considera que "outros agentes" o podem fazer ,substituindo-se à vontade popular.

Há mais:
-"Só mesmo a parvoeira da esquerda pode dizer tais disparates e ter garantido o apoio da tribo esquerdalha!

O registo ( mais uma vez) que também na análise textual o debate é sistematicamente substitudo pelo insulto tipo slogan manhoso e rasca.

Qual era mesmo a designação dada antes do 25 de Abril à "tribo esquerdalha"?

De

Anónimo disse...

A direita, essa gentinha esquisófrénica e ressabiada, nunca esquece e sempre que pode volta á carga e se puder humilha e subjuga e deixa atrás de si um rasto de destruição.
Seria bom que alguém pusesse essa estúpida e insignificante gentinha em sentido e os fizesse sofrer ( a eles e aos seus estúpidos servidores) o mesmo mal que têm causado.


Jose disse...

Apareça um palhaço que justifique ser falso que: «o voto NÃO vincula outros meios e outros agentes que não os próprios».
Blá, Blá, Kaim, Kaim, pieguices e raivinhas!
Venham os argumentos ou a tribo esquerdalha está disso isentada por algum cânone de fé ou algum tipo de superioridade fascizante?

Anónimo disse...

Deixemos para lá a marca da "raivinha e da pieguice" consubstanciada na palavra"palhaço" e no seu "Kaim, kaim".

E reafirme-se o já dito: quem não gosta do conhecimento em geral tem fificulades na compreensão dos textos .Ou então age por outros motivos. Ou ambas as coisas.

O texto do Nuno Serra é duma clareza de louvar. Denunciada pelo autor a ingerência nos assuntos gregos pela governança europeia. Com dados concretos.

Perante isto o que faz o"jose"?
Disparata com um "o que pode levar alguém a acreditar que o voto vincula outros meios e outros agentes que não os próprios?"

Confrontado com a evidência da pequena manobra , o dito cujo
reafirma em tom veemente a frase, acrescentando-lhe um pouco histericamente um NÂO antes , como se a discussão girasse acerca de tais slogans. Evidenciando mais uma vez a forma de fuga encontrada agora em torno de banalidades tontas.

O resto não interessa. Os argumentos explicitados devem causar alguma perturbação ao referido sujeito, comprovado pelo tom lastimável, deprimente,piegas e rancoroso.

Como é que os fascizantes adeptos do estado novo apelidavam a "tribo esquuerdalha", designação agora em uso pela impossibilidade de repetirem o seu linguarejar da altura?

De

Anónimo disse...

Tá visto que Zézinho das 00:13 enfiou uma carapuça.
Toma e vai-te curar o Zéquinha.

Anónimo disse...

Não queria pronunciar-me mais sobre este assunto. Mas uma dúvida terrível assaltou-me ao reler estes comentários.

Será que aquela frase do jose, que interpretei como sendo de fuga, representa algo mais do que esta?

E que é a porta aberta e escancarada para a ilegítima, ilegal, imoral, não ética, criminosa, arruaceira, fascista, ingerência nos assuntos internos de outro país?

Ao não respeito pela vontade expressa dum povo, já que "o voto NÃO vincula outros meios e outros agentes que não os próprios"? Estaremos perante o inadmissível?

De facto confesso que tal pensamento me perturbou.Vivemos de facto tempos perigosos e o que espreita é a barbárie.

De

Jose disse...

...tudo tão pífio como uma religião qualquer, com seus reponsos e exorcismos.

Anónimo disse...

?

"Pífio e religião e responso e exorcismo"?

"Esquecidos " já o "excluída a pura estupidez" e a "tribo esquerdalha" e o "palhaço" e o "kaim,kaim" e as "pieguices" e as raivinhas" eis uma forma peculiar mas característica que no fundo resume os responsos e exorcismos do "jose" mas que vai mais longe porque também o define e contribui para aquilitar o sujeito em causa.

Mas francamente não é a forma que agora me interessa mas o que está subjacente aquela afirmação terrível, misto de fuga e de asumpção espantosa e abjecta que a vontade dum povo pode ser violada pelo exército de violadores a seu bel prazer, já que nada obriga estes a respeitá-la.

O caminho para algumas das guerras de pilhagem teve exactamente também este lema. A defesa da submissão do mais fraco ao mais forte,independentemente de tudo o mais, é a marca de água de todos os predadores humanos, a marca de água da barbárie.

Podemos ver e desmontar as peças, as pequenas peças limitadas e toscas dos argumentos de alguém.Mas quando estamos perante este tipo de ideologia, as coisa assumem um outro carácter. Mais grave,mais negro, mais sombrio.

E as tentativas tardias de esconder o facto atrás de "pífios e de religioes e de responsos e de exorcismos" não permitem esconder a gravidade doo dito e escrito.

De facto a barbárie tem os seus amantes.

De