sexta-feira, 15 de abril de 2016

Contradição entre o sector privado e a saúde das pessoas

Ainda a propósito do benefício que tem o sector privado na Saúde.

Nesta entrevista de 2013 (que só li agora) se o Prémio Nobel da Medicina Richard J. Roberts acha que o modelo de investigação norte-americano é melhor que o europeu, porque tem o sector privado a investir, por outro considera que há uma contradição de interesses entre o bem das pessoas e o bem do sector privado:

Mas se eles são rentáveis investigarão melhor
Se só pensar em lucros, deixa de se preocupar com servir os seres humanos.
Por exemplo…
Eu verifiquei a forma como, em alguns casos, os investigadores dependentes de fundos privados descobriram medicamentos muito eficazes que teriam acabado completamente com uma doença…
E por que pararam de investigar?
Porque as empresas Farmacêuticas muitas vezes não estão tão interessadas em curar as pessoas como em sacar-lhes dinheiro e, por isso, a investigação, de repente, é desviada para a descoberta de medicamentos que não curam totalmente, mas que tornam crónica a doença e fazem sentir uma melhoria que desaparece quando se deixa de tomar a medicação.
É uma acusação grave
Mas é habitual que as Farmacêuticas estejam interessadas em linhas de investigação não para curar, mas sim para tornar crónicas as doenças com medicamentos cronificadores muito mais rentáveis que os que curam de uma vez por todas. E não tem de fazer mais que seguir a análise financeira da indústria farmacêutica para comprovar o que eu digo.
Há dividendos que matam
É por isso que lhe dizia que a Saúde não pode ser um mercado nem pode ser vista apenas como um meio para ganhar dinheiro. E, por isso, acho que o modelo europeu misto de capitais públicos e privados dificulta esse tipo de abusos.
Um exemplo de tais abusos?
Deixou de se investigar antibióticos por serem demasiado eficazes e curarem completamente. Como não se têm desenvolvido novos antibióticos, os microorganismos infecciosos tornaram-se resistentes e hoje a tuberculose, que foi derrotada na minha infância, está a surgir novamente e, no ano passado, matou um milhão de pessoas.
Não fala sobre o Terceiro Mundo?
Esse é outro capítulo triste: quase não se investigam as doenças do Terceiro Mundo, porque os medicamentos que as combateriam não seriam rentáveis. Mas eu estou a falar sobre o nosso Primeiro Mundo: o medicamento que cura tudo não é rentável e, portanto, não é investigado.
Os políticos não intervêm?
Não tenho ilusões: no nosso sistema, os políticos são meros funcionários dos grandes capitais, que investem o que for preciso para que os seus boys sejam eleitos e, se não forem, compram os eleitos.

12 comentários:

Anónimo disse...

O fetichismo pelo capital é tal que faz com que os capitalistas, e aqueles que os servem, tomem decisões que não os servem.
Eles acham que o $$$ é mais importante que a cura efectiva de doenças que eles próprios podem vir a sofrer!!

Não sei como a humanidade pode avançar com um regime económico (capitalismo) que dá exemplos constantes do seu esgotamento.

Anónimo disse...

é um pouco infantil julgar que o capitalismo encerra todos os males quando o comunismo também falhou redondamente e mesmo as democracias mais avançadas encerram em si o germe do fascismo
o mal está em nós, na corruptibilidade da natureza humana
na verdade, a grande maioria das pessoas, em situação de abastança, não se transformam para melhor e caem sim numa rede de frivolidades, ansiedade e mesquinhez.

ainda está por inventar o sistema que leve à ascese do Homem e este se transforme noutro animal, menos sujeito a um formalismo cognitivo que o empurra para um comportamento auto-destrutivo

Anónimo disse...

O tal problema dos opressores vs oprimidos - doutra forma, homem explorador do próprio homem.
Por vezes fico a matutar sobre estas coisas do ser humano…tantos milénios para se chegar a´ barbárie de novo. Não e´ de fácil entendimento…
E os seres privilegiados do “Saber” a dizerem que isto e´ o mais alto grau civilizacional jamais alcançado. Só falta dizer que estamos no Paraíso Terreal.
Acho que isto e´ uma outra forma de Terrorismo, não tao violento e brutal, mas terrorismo sim senhor…
Tráfico de seres humanos – tráfico de órgãos humanos- tráfico de droga- tráfico de armas, trafico
e sonegação de medicamentos e etc, etc. e tal…
de Adelino Silva

Anónimo disse...

Excelente post de JRA.

Anónimo disse...

Tudo em prol do bem comum, o dinheiro.

Jose disse...

O que diz faz sentido que possa ocorrer e que a intervenção do Estado faça sentido.
As únicas doutrinas que aspiravam ao desaparecimento do Estado dizem-se de esquerda!
É notável também verificar como a esquerda não tem estes temas na primeira linha da sua acção política, antes se dedica ao ingente problema de uma ridícula gramática de género e outras cretinices.

Anónimo disse...

Sim, de facto até agora o capitalismo tem sido o único mau da fita. E o comunismo não falhou nem perdeu pela simples razão da sua não existência!
Por ventura existiu ou existirao partidos e pessoas comunistas que pretendem anular o capitalismo, e que assumiram o poder em alguns países, mas comunismo em si, só nos primórdios da humanidade…
Nesta longa caminhada para o comunismo que um dia existira, haverá avanços e recuos.
Neste longo confronte ideológico capitalismo vs comunismo não há empates…lembro que a humanidade e´ formada pela veluvisidade de homens e mulheres e os comunistas fazem parte… de Adelino Silva

Jose disse...

«veluvisidade»
Adelino, tradução precisa-se!

Anónimo disse...

As ânsias ansiosas esbaforidas e esbaforadas do vigilante do dicionário ( logo este iliterato mor,lol) agora viraram-se para a "gramática de género e outras cretinices".

Ridiculo e prolixo arremedo este, que mal oculta estarmos em presença dum amante do lápis azul, com ânsias ansiosas esbaforidas e esbaforadas por não lhe seguirem os conselhos temáticos ( duplo lol)

O que disse Richard J. Roberts que faz sentido e que motiva o bater dos calcanhares do vigilante da gramática e do dicionário : "os políticos são meros funcionários dos grandes capitais, que investem o que for preciso para que os seus boys sejam eleitos e, se não forem, compram os eleitos".

Os políticos do Capital, desde Salazar a Passos Coelho, passando por toda a massa do bloco central.

Jose disse...

Há um mantrista militante que chama o Salazar a despropósito de tudo e um par de botas.
Já a aristocracia socialista não suscita dúvidas no seu fulgor baçoo e cheio de nódoas!

Anónimo disse...

Sobre o Estado já se disse muito. Já se sabe que o aparelho do estado está ao serviço do poder dominante.
Quem defende o desaparecimento do Estado são fundamentalmente os anarquistas. Há-os de direita e de esquerda. E os nem tanto.
O comunismo advoga a supressão total do Estado apenas na sua fase final.

Pelo que debater o desaparecimento do Estado agora é o mesmo que masturbar grilos, ou seja é apenas tentar que não se debata o que de facto é importante - de como o aparelho de estado é inundado por boys, de como Maria Luís Albuquerque é sinónimo de venda a quem dá mais, de como a banca privada é um cancro maligno, de como a corrupção está umbilicalmente ligada a este estadio do capitalismo, de como há uma contradição insanável de interesses entre o bem das pessoas e o bem do sector privado.

Ora isto é quotidianamente debatido pelas esquerdas. Com propostas concretas sobre os diferentes temas e sobre a governação do Estado. Desde logo recuperando a Soberania Nacional. E, por exemplo, nacionalizando a Banca para a colocar ao serviço da Economia Nacional, garantindo um Serviço Nacional de Saúde que cumpra o seu desiderato inicial e que não seja destruído pelos interesses privados, fomentando linhas de investigação subordinadas aos interesses públicos e não aos offshores do capital, etc, etc, etc. Com a correspondente intervenção nas áreas da Saúde, Segurança Social, Habitação, Cultura.
Tudo isto é público, se bem que os media e os detentores dos órgãos de informação sistematicamente promovam precisamente os interesses privados dos tais privados interesses.

Sobra que a "ridícula gramática de género e outras cretinices" será apenas o produto da tal masturbação aos grilos acima referida

Anónimo disse...

Ah ! esse incómodo ventral que dá volta às vísceras dum tipo aí em cima quando o sacro-santo nome do seu dilecto ídolo é convocado.

Qual foi a frase que o atormentou?
"os políticos - desde Salazar a Passos Coelho, passando por toda a massa do bloco central- são meros funcionários dos grandes capitais, que investem o que for preciso para que os seus boys sejam eleitos e, se não forem, compram os eleitos".

Salazar, figura baça e cheia de nódoas,adepto do braço estendido da ordem, não foi eleito. Foi lá posto directamente pelo grande capital, sem mais delongas e à cacetada.