terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Agendas há muitas

Porfírio Silva deu uma entrevista, defendendo que a esquerda “tem de pensar uma agenda para a década”. Creio que conjuntamente tem mais em que pensar aqui e agora. No contexto da actual solução governativa, não tem certamente de colocar questões que não está ainda em condições de resolver, como alguns dos termos da sua entrevista de resto ilustram. Então para quê colocá-las?

Aposto que quando todos estivermos em condições de as colocar é porque, por exemplo, os hábitos de pensamento que associam a nobre palavra internacionalismo a uma rematada distopia monetária chamada euro serão parte do passado e é porque já estaremos em condições de recuperar instrumentos para planear indicativa e consequentemente na escala onde pode estar a escolha democrática.

Lamentavelmente ou não, no actual contexto estrutural, passados um ou dois anos já ninguém se lembra de agendas para a década.

13 comentários:

Jaime Santos disse...

Olhando para aquilo que foi dito no 'Avante', como notou Vital Moreira, https://causa-nossa.blogspot.pt/2017/02/o-misterio-da-geringonca-desaparecida.html, eu diria que o seu comentário ganha todo um outro sentido. A questão que se coloca é, pode o Governo da Geringonça chegar sequer ao fim da legislatura? Agora, se a sua condição para pensar uma agenda a longo prazo é que os outros vejam a razão dos seus pontos de vista, então não iremos longe... Convirá ainda lembrar-lhe que os Partidos não gozam de total autonomia estratégica em Democracia (nem o PCP, pelos vistos, ou se calhar não existiria a Geringonça). Esses Partidos prestam antes de tudo contas ao seu eleitorado. Não sei, nem me interessa, se Costa é pessoalmente anti-protecionista (Kinnock disse um dia que ser líder de um Partido Democrático e ter-se opinião pessoal é uma contradição nos termos), Defende esse ponto de vista porque porventura a maioria dos votantes do PS o são. Por isso, habitue-se à ideia de que se quiser governar em coligação, em particular numa em que é francamente minoritário, vai ter que ser capaz de aceitar também aquilo de que não gosta, para conseguir alguma coisa do que quer. O que é melhor que nada. Ou será que prefere a Direita no poder, para garantir a pureza dos seus pontos de vista?

Anónimo disse...

Três parágrafos duma limpidez e duma frontalidade notáveis.

Jose disse...

Esse Porfírio precisa de ser lembrado do profundíssimo pensamento de Cramsci (ao que me dizem!);«o «velho» ainda vive e o «novo» ainda não assumiu o testemunho»

Isto para já não falar em «escalas democráticas» assunto que provavelmente acredita estar tratado na Constituição da República. Ou é estúpido ou faz-se de distraído!!

Anónimo disse...


Segundo o conteúdo da entrevista dada por Porfírio Silva não vejo onde esta´ a piada, «agenda para uma década». Ele foi responsável e deu a cara por aquilo que pensa ser mais positivo para a esquerda, particularmente para o seu partido. Todos sabemos que agendas há muitas mas se não procurarmos avançar com contributos sociais e políticos de esquerda, nada feito. Ate parece que pensar esquerda a médio prazo e´ coisa temerária… ou estarão já a pensar nas próximas eleições legislativas…! E´ que a preposição social a´ esquerda tem de ser permanente e por isso tem de estabilizar, de ser coerente consigo própria. Os partidos de esquerda têm de privilegiar todo o povo antes de olhar para o seu umbigo! De Adelino Silva

Anónimo disse...

Por falar em "Agendas", aqui vai:

O 2º colóquio destas comemorações vai realizar-se na Parede, em Cascais, na Av. dos Bombeiros Voluntários, nº 142, pelas 15 horas de sábado, dia 11 de Fevereiro.

Contamos com a presença e participação de todos os interessados em debater e aprender com esta Revolução.

1) Natureza de classe da revolução de Outubro
2) A revolução e a questão agrária

Com a presença do Jurista Arnaldo Matos

Augusto disse...

Há ESQUERDA , ninguém quer que a direita radical PSD-CDS e as suas políticas, regressem ao poder. Já no PS a começar pelo Vital Moreira e pelo Francisco Assis, há muita gente que tudo faz para que isso se materialize, quer defendendo as políticas que a direita radical implementou , quer atacando todas as medidas para reverter essas políticas .

Anónimo disse...

A propósito da célebre frase de Gramsci "explicava" há algumas horas quem dá pelo nick name de Jose:

«o «velho» ainda vive e o «novo» ainda não assumiu o testemunho»
subjaz a dispensa de formular, de dar testemunho do futuro, mas certo é que se admite a condenação, sem mais, do presente."

A "dispensa de dar testemunho do futuro" é a marca de água de quem anda por aí a pedir lembranças de pensamentos profundos.
Como o próprio sujeito diria :
"Ou é estúpido ou faz-se de distraído!!"

Anónimo disse...

Jaime Santos está mais uma vez equivocado.
Em muita coisa. E não, não é nas suas opiniões expressas, que tem todo o direito de as ter e de as expressar.
Nem é no papel cor-de-rosa com que embrulha ds factos, como a frase de Kinnock.

É nos factos:
"se quiser governar em coligação"
Hoje não há um governo de coligação. Se necessário JS deve rever a história recente do período pós eleições de Outubro de 2015, embora seja um pouco vergonhoso não o saber.
E ninguém pediu para governar em coligação. O que se propôs ( e se propõe) é uma coisa substancialmente diferente.

Pelo que cai pela base o arrazoado professoral de JS.

Quanto a Vital Moreira...esse como alguém disse já assumiu a sua ruptura com a social democracia e bandeia-se como um vulgar neo-liberal a passar-se por coisa séria

Anónimo disse...

A entrevista de Porfírio Silva teve lugar uma semana depois da entrevista em que Pedro Nuno Santos afirmou que "O PS não precisa da direita, nunca mais, para governar. É uma vitória muito importante." [ http://www.jornaleconomico.sapo.pt/noticias/pedro-nuno-santos-ps-nao-radicalizou-tudo-sido-feito-profundamente-social-democrata-112918 ].

Acrescento eu que, em futuras campanhas para eleições legislativas, o PS já não vai poder apelar ao "voto útil" de esquerda para chegar à "maioria absoluta" - e assim poder "governar sem compromissos com a direita" -, agora que ficou demonstrado que o PS nem sequer precisa de uma maioria relativa, desde que a direita (PSD/CDS-PP) não alcance a maioria absoluta. É uma vitória muito importante para os partidos que, à esquerda do PS, têm capacidade para eleger deputados, e é também uma enorme derrota para os que, ao longo dos anos, atribuíram a esses partidos de esquerda a culpa dos compromissos do PS com essa direita.

Quanto à entrevista de Porfírio Silva, noto que ele alega a necessidade de a esquerda pensar com um horizonte que vá para além da presente legislatura, de "pensar estrategicamente a mais longo prazo"; mas noto também que apresenta a "aposta" do PS na "Europa" - que reconhece não ser partilhada da mesma maneira "nem pelo BE nem pelo PCP" - como "questão central da estratégia para o país".

É digno de registo que ele reconheça que "alguns alertas que o PCP deu no passado acerca dos riscos da integração europeia eram pertinentes. (...) Relevantes e pertinentes". Mas não é, infelizmente, menos digno de registo (neste caso, no mau sentido) que ele continue, apesar disso, a achar que "Portugal deve estar na União Europeia [UE] e na zona euro" - sempre numa postura que não envolva "afrontamento com a UE", mesmo quando estão em causa aberrações como o Tratado Orçamental que os deputados do PS aprovaram, de braço dado com os do PSD e do CDS-PP, numa 6ª feira 13 de má memória, em Abril de 2012 -, em nome da recusa do "nacionalismo" e da recusa da "troca do internacionalismo pelo patriotismo".

Entretanto, espera-se que os dirigentes do PS sigam com atenção o que se vai passando na "Europa" realmente existente, neste ano crucial em que os dois países do "eixo franco-alemão" vão a votos, e que dos factos tirem as devidas conclusões. Talvez lá para o fim do ano até faça sentido começar a tentar estabelecer uma agenda "à esquerda" - em Portugal e não só - para a década que se vai seguir...


A. Correia

Jose disse...


O sonho húmido do PS é ser «O Charneira» ou seja, ser governo sem ganhar eleições e muito menos ter de ser maioritário na AR.
Na cabeça dessa matilha, a eles cabe-lhes ocupar o Estado, aos outros comportarem-se segundo a sua ideologia ou subordinarem-se ao que se defina ser o interesse nacional em cada momento.
Transformados em detentores de poder, logo se definem como´plurais, o que significa que abriga todos o que se subordinem a uma lógica de servir o objectivo de poder.
A acção de Costa e dos cães de fila de que se rodeia - presporrente e opaco - é uma clara expressão do que se projecta.
Se o PSD se afundasse - grande objectivo estratégico - haveríamos de ouvir dizer que 'não precisaremos nunca mais da esquerda extrema para governar'.
Por isso deve o PSD/CDS servir-lhe a oposição do calibre da que lhes serviram quando tiveram a missão de sair de um resgate que os governos corruptos do PS deram ao país, e que até hoje se negou a assumir qualquer responsabilidade, com a cara-de-pau que só treteiros estanhados em gerações de parasitas treteiros podem apresentar.

Anónimo disse...

Qualquer agenda para o futuro próximo que o nosso PS possa propor ou aceitar tem de ser compatível com a agenda a muito longo prazo das famílias políticas que, a nível da União Europeia, têm sido responsáveis pela chamada "construção europeia", baseada no famigerado "projecto europeu".

Essas famílias políticas - ainda dominantes, mas a perder terreno face às margens, direita e esquerda, da euro-política - já perceberam que "se vogliamo che tutto rimanga com'è, bisogna che tutto cambi". Na próxima 3ª feira, dia de S. Valentim, vão levar a votos, num Parlamento Europeu agora presidido pelo berlusconiano sr. Tajani (a alternativa era o seu compatriota Pittella), três suculentos projectos de resolução inspirados no bom e velho leopardino princípio. É conveniente conhecer em detalhe os conteúdos destes projectos, até porque, em vez de procurar divulgá-los, o "mainstream" mediático até parece que pretende escondê-los, para que surjam depois como um facto consumado que só anti-europeus empedernidos poderão atrever-se a contestar:

http://www.europarl.europa.eu/sides/getDoc.do?type=AGENDA&reference=20170214&format=XML&language=EN&secondRef=SIT


A. Correia

Anónimo disse...

Sonho húmido/ Matilha? Cães de fila? Treteiros?

Linguagem tipica dum labrego caceteiro

Anónimo disse...

Uma boa achega de A.Correia invocando Lampedusa com toda a propriedade.

Quanto ao dispensador de "testemunhos do futuro" regista-se o seu regresso ao apoio a Passos Coelho, num registo piegas demais para o gosto do vende-pátrias laranja. Veja-se o delicioso fado lamechas a exigir uma "oposição do calibre da que lhes serviram quando tiveram a missão de sair de um resgate".

Mais:
Os corruptos citados fazem parte da desbragalhada coorte do Capital. O "ser governo sem ganhar eleições" faz parte da reescrita da lei, da Constituição e dos factos que ainda faz mover a propaganda senil dos ultra-montanos pafistas. O "interesse nacional" faz lembrar o "a bem-da-nação execrável do execrável estado novo. O queixume sobre o afundamento do PSD apenas a confirmação de fidelidades de classe.

Quanto ao "sonho húmido", à "matilha", aos "cães-de-fila",aos "treteiros", aos "parasitas" apenas a confirmação da extracção apurada de quem escreve tais pérolas