terça-feira, 3 de julho de 2007

Balanços do neoliberalismo (III)

Vital Moreira argumenta que Blair irá ficar para a história como alguém que «modernizou e dinamizou o trabalhismo britânico e com ele a social-democracia europeia, reformou e salvaguardou a welfare state e os serviços públicos». Lamenta apenas o «enorme erro da guerra do Iraque».

Discordo totalmente. Em primeiro lugar, acho que Blair representa abdicação total do programa social-democrata de reformas na estrutura das economias capitalistas e nos seus principais mercados. Em segundo lugar, a herança de Blair em matéria de serviços públicos é das mais perniciosas. Longe de salvar o Estado Providência, as suas políticas de «mimetismo mercantil» (expressão utilizada pelo cientista político David Marquand num livro esclarecedor sobre o atrofiamento do espaço público intitulado O Declínio do Público) apenas aprofundaram a sua subversão. Com pesados custos e poucos resultados.

De facto, a generalização da lógica de contratualização da provisão com privados ou com entidades públicas supostamente dotadas de autonomia, assegurando financiamento público, não tem dado os resultados esperados. Os contratos, como não poderia deixar de ser, são de difícil e custoso controlo, a introdução de «concorrência» e de incentivos pecuniários selectivos subverte as prioridades da provisão e a gestão do sistema torna-se cada vez mais difícil. No ensino superior aumentou brutalmente as propinas fazendo do endividamento estudantil um tema nacional. Agora tem um projecto que entrega a gestão de muitas escolas públicas aos interesses privados...

Em Portugal, esta lógica importada vai fazendo o seu caminho. O novo trabalhismo criou uma estripe do «vírus liberal», feita de engenharia social que procura recriar «o mercado» na esfera dos serviços públicos, que parece afectar com particular intensidade os nossos socialistas.

3 comentários:

Diogo disse...

«Lamenta apenas o «enorme erro da guerra do Iraque»

Durão Barroso - um indivíduo com as mãos sujas de sangue

Esquerda Comunista disse...

OH João!

Essa de criticares o Blair por representar a "abdicação total do programa social-democrata de reformas na estrutura das economias capitalistas e nos seus principais mercados" é fabulosa!

Primeiro porque, pelos vistos, parece que só podemos almejar ao tal "programa social-democrata de reformas na estrutura das economias capitalistas e nos seus principais mercados"

Depois porque é duma ingenuidade histórica a toda a prova!!!

Até parece que o Blair foi um mauzão que abdicou egoisticamente do "programa social-democrata de reformas na estrutura das economias capitalistas e nos seus principais mercados"!!!

Não se trataram de escolhas subjectivas, de tomadas de rumo elaboradas individualmente por alguns "mauzões" de governantes como vocês nos ladrões de bicicletas parece que acreditam. Será?

O chamado "neo-liberalismo" não é uma escolha: é uma necessidade que o capitalismo em impasse impõe a todos os povos e países, independentemente dos governos serem de esquerda, direita ou curtirem roubar bicicletas.

No único país onde o governo não aplicou a receita "neo-liberal", este viu-se na contingência de ter de superar o capitalismo - a Venezuela.

Ainda que o capitalismo não esteja superado nesse país, a sua história recente é a demonstração clara de como, nesta época, as mais elementares reformas entram em total contradição com o capitalismo.

Mas alguns, infelizmente, preferem "roubar biciletas", enquanto o grande capital rouba " à grande e à francesa", abdicando do tal "programa social-democrata de reformas na estrutura das economias capitalistas e nos seus principais mercados" - deve ser esquecimento

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Pablo Pichasso disse...

e se mais quiserem saber sobre as politicas de Blair não percam a edição de junho do Le Monde Diplomatique. Está lá tudo.