sábado, 14 de julho de 2007

Neoliberalismo e crise do projecto europeu

«Os países da União Europeia (UE) operaram hoje uma série de cortes na proposta de orçamento comunitário para 2008, dotando-o do valor mais baixo, em termos relativos, da sua história, pondo em causa o financiamento de alguns projectos emblemáticos» (Público)

«É hoje evidente, por exemplo, que a concorrência fiscal teve um forte impulso com a mal planeada expansão da União ao leste europeu. Isto é em parte o resultado destas economias terem aderido à União sabendo que o instrumento dos fundos estruturais, destinado a gerir politicamente o processo de integração de economias com padrões de especialização e estruturas de custo muito distintas, já não teria o mesmo alcance financeiro que teve quando foi desenhado para as economias do sul da Europa. Assim, os governos ferozmente neoliberais dos novos estados-membros procuraram jogar a cartada da 'sedução' fiscal ao investimento estrangeiro. E acenaram também com uma força de trabalho qualificada e com níveis salariais relativamente baixos. Neste contexto, as opiniões públicas dos países mais ricos, confrontadas com procedimentos que percepcionam como não-cooperativos, tenderão a bloquear cada vez mais as contribuições nacionais para o orçamento comunitário. Isto num momento em que o seu aumento seria cada vez mais importante para, através de transferências para as regiões mais pobres, travar os mecanismos cumulativos de polarização social e espacial que inevitavelmente resultam de um incremento do poder e da escala das forças de mercado».

«Estamos convencidos que o reforço do peso do orçamento, condição absolutamente imprescindível para uma política económica digna desse nome, é apenas a tradução no campo económico do necessário pilar político que permitirá sustentar a construção de um espaço económico unificado. Sem este pilar não existe projecto de integração económica, e sobretudo monetária, que resista».

Nota: este texto é composto por dois excertos, com ligeiras adaptações, do artigo que eu e o Ricardo publicámos no último número de Julho do Le Monde Diplomatique - Edição Portuguesa.

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