domingo, 11 de novembro de 2007

Contágio

É notável que sejam de uma publicação mais vocacionada para análises políticas internacionais os melhores artigos sobre a actual crise financeira e suas implicações para a economia global. Depois do artigo de Fredric Lordon, é o contributo de François Chesnais, no Le Monde Diplomatique deste mês, que merece atenção.

Este artigo aborda as implicações da actual crise sobre os frágeis equilíbrios que sustentam hoje a economia internacional. As formidáveis reservas de divisas estrangeiras detidas pelas economias asiáticas, sobretudo a China, têm sido investidas em títulos de Tesouro norte-americanos, financiando assim a largamente endividada economia dos EUA. Este financiamento tem como clara contrapartida o acesso ao vasto mercado deste país - só a cadeia de distribuição Wal-Mart é responsável pela compra de 10% das exportações totais da China. Ora, com o seu consumo sustentado em boa medida através do endividamento, a actual crise financeira faz prever um abrandamento da procura americana. Se adicionarmos a incapacidade do governo chinês em «arrefecer» a sua economia e suster a criação de sobrecapacidade produtiva, estão reunidos os ingredientes para uma prolongada crise global.

Finamente, uma pequena nota sobre François Chesnais. Ex-técnico da OCDE, marxista e membro de um pequeno grupo trotskista, este economista ganhou notoriedade através da acção da ATTAC (Associação pela Taxação das Transacções para Ajuda aos Cidadãos) na defesa de uma maior regulação financeira, simbolizada na famosa taxa de Tobin. De facto, ele é autor e editor de algumas das melhores análises dos actuais processos de financeirização da economia (um dos domínios na teoria económica onde os franceses ultrapassam os seus congéneres anglo-saxónicos). No entanto, gostava de chamar a atenção para o trabalho de Chesnais La Mondialisation Du Capital, um dos melhores livros sobre a economia global que já li, onde o autor consegue, de forma brilhante, mostrar como se articulam os desiguais processos de internacionalização da produção com a desenfreada influência da finança global na economia.

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