quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

A economia da turbulência

A importância dos mercados financeiros é de tal ordem que as causas da recente crise parecem estar neles encerradas. No entanto, se é certo que estes hiperbolizam os efeitos das fases ascendentes e descendentes da economia real, é nesta última que devemos encontrar as respostas para a crise. Robert Brenner é dos poucos a arriscar uma explicação para a euforia financeira das duas últimas décadas e para a consequente multiplicação das crises financeiras. Autor em 1998 de um número especial da New Left Review dedicado à história económica do pós-guerra, Brenner foi considerado, pelos editores da revista (algo exageradamente diga-se), como o herdeiro do trabalho iniciado por Marx no século XIX.

Para este autor, a economia mundial sofre, desde os anos setenta, de excesso de capacidade produtiva, reflectida em menores taxas de lucro médio da indústria e nas fracas taxas de crescimento económico e investimento dos últimos trinta anos nas principais economias mundiais (EUA, Japão, Alemanha) quando comparados com as décadas «gloriosas» de crescimento que se seguiram à 2º Guerra Mundial. Nos anos oitenta a resposta a este problema tomou duas direcções diferentes. Por um lado, verificou-se uma enorme ofensiva contra os direitos dos trabalhadores (aumento do desemprego e estagnação salarial) de forma a desequilibrar a repartição do rendimento entre capital e trabalho, favorecendo o primeiro. Por outro lado, como estimulo à actividade económica, os Estados contraíram enormes quantidades de dívida pública neste período. Uma tendência revertida nos anos noventa quando os défices públicos foram sendo substituídos por défices dos agentes privados impulsionados por preços especulativos de determinados activos - primeiro das acções «tecnológicas», mais recentemente dos activos imobiliários.

Contudo, estes estímulos não resolveram os problemas de excesso de capacidade produtiva. A sobreacumulação de capital não só persiste como foi agravada. As taxas de lucro continuam longe dos níveis dos anos cinquenta e sessenta. Assim, quando as bolhas especulativas implodem os problemas estruturais da economia mundial emergem com mais força. É muito cedo para afirmar se esta crise financeira é o fim da economia especulativa sob o domínio da finança que manteve a economia mundial à tona durante as últimas décadas, mas, se o diagnóstico de Brenner for correcto, devemos esperar que a gravidade e frequência destas crises aumente.

Deixo duas referências ao trabalho de Brenner: The Economics of Global Turbulence (o tal número especial da New Left revisto e editado em livro) e o The Boom and Bubble (sobre o resurgimento económico dos EUA durante os anos noventa). Este artigo analisa a actual crise.

1 comentário:

A. Cabral disse...

...e o decrescimo da taxa de lucro dos EUA devido 'a competicao da Europa e do Japao.