quinta-feira, 24 de abril de 2008

Dez anos depois

«Passam dez anos sobre a fixação da taxa de conversão entre o escudo e o euro. Há ainda muitos sinais da velha moeda portuguesa ? Quase 40 milhões de contos estão por trocar. A moeda única está a ser boa para Portugal e para os portugueses? Como seria o país se não tivéssemos o euro?». No Expresso desta semana. É uma data importante. Será bom lembrar o que foi prometido. E comparar com a mediocridade do que foi alcançado. Lembrar quem criticou todo o processo de convergência nominal que nos levou à moeda única. Quem alertou para as consequências de uma arquitectura do governo económico absolutamente desequilibrada. Quem avisou para os perigos de tomar uma decisão com esta importância sem um debate digno desse nome. De repente, lembro-me de alguns economistas: Francisco Louçã, João Ferreira do Amaral, Octávio Teixeira ou Sérgio Ribeiro. Eu estava no ISEG nessa altura. E no ISEG organizou-se um referendo à moeda única. Perdemos, mas ali discutiu-se a sério. Pena que só tenha sido no ISEG. E, no entanto, a moeda única pode ser uma excelente ideia: com um banco central com outros estatutos, com um orçamento comunitário a sério (como foi possível ter-se avançado com um orçamento residual e incapaz de efectuar transferências com impacto para as «regiões» em dificuldades?), com harmonização fiscal ou com regulação da esfera financeira à escala europeia. A social-democracia avançou para a moeda única com o voluntarismo de quem acha que o resto vem naturalmente por acréscimo. Não vem. A economia portuguesa pagou um preço elevado por estas aventuras. E vai continuar a pagar. E o projecto europeu também.

1 comentário:

Rui Curado Silva disse...

Caro João,

qual é esse "elevado preço", comparado com o estado da nossa economia há 10 anos?
E se esse elevado preço de facto existe, o problema é da moeda única ou da nossa incapacidade em a implementar de uma forma organizada no país?

Eu que viajo pela Europa há mais de 10 anos deixei de pagar "elevados preços" absurdos ligados exclusivamente à existência de moedas nacionais, e como não sou rico saiam-me do pelo, e por isso não os esqueço.
Mas é o meu caso não quero fazer estatística dele. Gostaria que fundamentasses bem essa do "elevado preço". Mas adianto-te já que não engulo histórias sobre os sacrifícios para combater o défice, ambos sabemos que países que abusam do défice pagam "elevados preços" de outras formas.

Última nota sobre o João Ferreira do Amaral: tudo o que escreveu desde há 10 anos sobre o Euro faz-me sorrir, passei a uma fase em que o paroquialismo já não me provoca a gargalhada. Nas minhas viagens pelos diversos países encontro vários Ferreiras do Amaral, sabem muito de futurologia, agarrados a nacionalismos bacocos, tenho um bocado medo desses tipos para dizer a verdade.