segunda-feira, 28 de julho de 2008

É preciso quebrar o «Consenso da Almirante Reis»

«Não tenho qualquer dúvida em afirmar que devido à moeda única Portugal está hoje mais desprotegido em relação à globalização do que grande parte das economias do mundo, mesmo de países de dimensão e nível de desenvolvimento inferior». Recupero um excerto de um artigo de João Ferreira do Amaral (JFA) publicado, em 2007, no Jornal de Negócios. Uma moeda única demasiado forte e um governo económico europeu desequilibrado, que nem sequer tem um orçamento central digno desse nome para atenuar os choques, só podem dar asneira. O mínimo que se pode dizer é que a história e os desequilíbrios externos da nossa economia têm dado razão a estas posições críticas. As políticas erradas são antigas. Já em 2000, num livro editado pelo actual Ministro da Economia, JFA tinha alertado: «os empresários fizeram aquilo que sempre fazem: reagiram aos sinais macroeconómicos. E estes sinais, dados pela sobreapreciação, explícita e implícita (esta depois de 1999) do escudo foram: ‘Invistam em bens não transaccionáveis e não em bens transaccionáveis’». Junte-se a isto um processo de privatizações sem rei nem roque, que só reforçou estes perversos sinais, e temos alguns ingredientes para uma receita económica que se limitou a liberalizar os mercados sem os tentar governar e que desta forma muito prejudicou a nossa inserção externa.

Nota: este livro de Robert Wade da LSE é fundamental para abordar estes temas. A partir da análise da trajectória de Taiwan, revolucionou, no princípio da década de noventa, os estudos do desenvolvimento. Fica claro o papel fundamental do Estado no milagre económico asiático. Foi reeditado com um novo prefácio onde Wade discute o futuro da ciência e da política económica depois do fracasso do «Consenso de Washington» e das suas cópias caseiras.

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