quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Economia liberal: posições, artigos, livros e recensões

Com o seu habitual poder de síntese, João Pinto e Castro resume numa frase a posição liberal (no bom sentido que a palavra tem nos EUA...) sobre o plano de salvamento do sector financeiro: «a nacionalização (total ou parcial) é a solução que melhor acautela os interesses dos contribuintes». Helena Garrido, no Jornal de Negócios, é igualmente sensata: «O plano Paulson ou outra qualquer acção de salvamento não pode nacionalizar apenas os prejuízos e os activos tóxicos». Claro. Como o Nuno Teles já aqui tinha assinalado, a Suécia mostra como se faz.

A fragilização endógena de Wall-Street pode criar as condições para uma reforma de fundo que imponha regras mais apertadas à finança. Sobre isto, e para além do que Paul Krugman tem escrito, vale a pena ler os economistas liberais que escrevem na American Prospect: Robert Kuttner, Robert Reich e Dean Baker. Do controlo sobre os incentivos dos gestores à introdução de novas taxas, os 700 mil milhões de dólares previstos no Plano Paulson não podem ser um cheque em branco a Wall-Street. E, sobretudo, convinha que se prestasse atenção às necessidades das classes trabalhadoras que, ao perderem o emprego e a casa, são as maiores vítimas das externalidades negativas geradas pelos desvarios de Wall-Street: «extensão do subsídio de desemprego, congelamento das hipotecas e um pacote de estímulos que crie empregos» (Robert Reich). Estado Social.

Keynesianismo de esquerda como alternativa ao «Estado Predador» afinado pelos Republicanos. Como defende James Galbraith, os Republicanos abandonaram na prática a ficção conveniente do mercado livre. Está na altura dos Democratas fazerem o mesmo.

Nota. O último livro de Robert Reich - Supercapitalism - não é sobre a crise, mas é sobre a forma de capitalismo que a gerou. É bastante desigual. Simpatizo pouco com o seu determinismo tecnológico, mas é bastante bom a rebentar com a conversa da responsabilidade social das empresas e a defender, com ampla evidência, que a desregulamentação e a intensificação da concorrência estão associadas a um aumento da corrupção e a um esvaziamento da esfera política democrática. A recensão de Tony Judt é injusta quando acusa o livro de ser economicista, mas é um pretexto para uma estimulante reflexão sobre o capitalismo e os seus limites políticos e morais.

2 comentários:

Diogo disse...

Sou um leitor atento do vosso blog, embora comente pouco.

Mas vocês não acham que estão a olhar nostalgicamente para o passado? Receitas de há 60 anos para um mundo completamente diferente?

Notem que não estou a defender este «liberalismo», que nada mais é que uma aberração cujas consequências ainda não temos consciência.

Estou a falar do grande paradigma do séc XX: o emprego!

Será que as tecnologias não estão a acabar com esta «forma de sociedade»? Não será por isso que vemos todos os dias nos telejornais empresas e despedir não sei quantas pessoas? Substituídas por hardware e software?

E se é o hardware e software a produzir (cada vez mais sozinhos), porque irão os proveitos ir parar exclusivamente aos bolsos de meia dúzia de investidores?

A sociedade não precisará de se organizar de outra forma? Sem fazer um retrocesso de muitas dezenas de anos? Sem voltar para uma realidade que já não existe? Sem voltar para o «emprego»?

CCz disse...

"alternativa ao «Estado Predador» afinado pelos Republicanos"
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Pois eu ao ler esse livro fartei-me de fazer anotações sobre o que entre nós foi afinado pelo PS no governo. Aquela pergunta "Mas existe mercado? Existe mercado a sério?" Faz-me lembrar a energia, os combustíveis, as auto-estradas,...