terça-feira, 23 de junho de 2009

Para quê?

«Há vários meses que na faculdade onde dou aulas está pintado numa parede uma inscrição que pergunta, “estes economistas, para quê?” Quando li o manifesto dos 28 foi essa a questão que me veio à cabeça». E veio bem. Pedro Adão e Silva (PAS) ou por que é que esta pertinente questão deve agora vir a mais cabeças.

PAS refere uma posta de Pedro Lains onde se afirma que o actual estádio da integração europeia obriga a pensar Portugal como uma mera região pobre e periférica. Às vezes, vale a pena exagerar para sublinhar um ponto importante. Eu acrescentaria: uma região pobre e periférica num espaço disfuncional onde a polarização tende a aumentar.

É como se estivéssemos no meio de uma corrente. Ou avançamos para a margem de um Estado federal digno desse nome, com orçamento e dívida, ou temos de voltar atrás e recuperar instrumentos de política económica e comercial para os Estados. Na realidade, há mais combinações possíveis. Muita «indisciplina» e heterodoxia, de preferência coordenadas, podem ajudar a descobrir uma combinação razoável. Sobre estes temas, os economistas-problema não têm nada a dizer.

10 comentários:

Mar Arável disse...

Falta o equilibrio

na assimetria

maria disse...

li algures para aqui uns artigos mesmo interessantes sobre baldios ( uma bosta , a propiedade comum. será que agora em tempo de crise vai retornar ao seu papel primeiro? , era giro perceber). Bem , podiam aplicar tudo isso a produzir para o colectivo. Estão parvinhos ou que? mas alguém está disposto a produzir para o colectivo vendo quem distribui o que é produzido a viver bem melhor que nós? Acordem!! acho que nunca perceberam aquilo de que a terra é para quem a trabalha.

maria disse...

bem , têm o mérito de serem o único blog que não associa baldio a terreno sem dono. Têm o desmérito de não saberem aplicar isso à sociedade em geral. Pensem , economistas , e introduzam o factor humano e a cenoura nas vossas teorias.

Dias disse...

(há economistas da Lista que deviam ter vergonha!)

As políticas do “aperto do cinto” trazem-nos má memória. Remetem-nos até para o tempo da outra senhora, de vida poupadinha e cinzentona.

O investimento público é preciso. Faço votos que esse investimento público não se reduza e se esgote – literalmente – no Aeroporto e TGV…
A política que o governo Sócrates seguiu, votou à exclusão variados projectos de muito menor envergadura, mas considerados estruturantes para o país, e também eles co-financiados pela UE.
É notório também, que dentro do espírito do tempo que nos trouxe até aqui, pouca ou nenhuma atenção foram dados a sectores que são essência de um Estado social. Somente há poucos meses se começou a ouvir falar de recuperação do parque escolar, de que a visita mais recente à Escola António Arroio constituiu ponto “alto”…A falta de interesse não foi só na cultura (que desfaçatez!).

É preciso investimento público, transparente e bem distribuído, escalonado de forma inteligente. E que não resulte de humores da banca ou dos grandes empreiteiros. A suivre…

Ricardo Castro disse...

Considero que existe um paradoxo nesta análise que tem de ser corrigido.

Por um lado defende-se o investimento público, por outro, que a sociedade é disfuncional. Eu concordo com ambas. E por isso tenho dificuldades em fazer certas ponderações. Tenho muitas dúvidas, e poucas razões para acreditar no meu próprio juízo sobre esta matéria.

Por exemplo, se aumentar o investimento público as disfuncionalidades vão estar presentes, e vão actuar em todos os processos, a montante e a jusante dos investimentos.

Os custos vão disparar, as mais valias vão ser distribuidas desiquilibradamente, o processo vai ser pouco transparente com todos os malefícios inerentes a essa situação, as competências que esses investimentos tenderão a deixar no país vão ser mal negociadas e, portanto, vão ser reduzidas, todos esses erros vão ser explorados, e bem, pela comunicação social, mantendo o ciclo de desconfiança já comentado por João Rodrigues (em A Armadilha Social Portuguesa) e, por fim, quando estiverem completos vão ser melhor aproveitados por quem já tem maior capacidade instalada.

É por isso que como defensor do investimento público tenho dúvidas quanto a certos investimentos. Acima de tudo tenho dúvidas em defender o investimento público realizado por um estado fraco, cativo dos interesses de quem tem maior capacidade de influência, sem um sistema de análise, acompanhamento e execução conveniente.

Isso é o que tem sido feito e Portugal continua a ser um país profundamente assismétrico. Sei que nõ posso defender que existe aqui uma razão de causa-efeito tão simplista. E se acredito no investimento público enquanto modelo teórico de redução das assimetrias e promotor de desenvolvimento, pelo menos perdi a confiança nesse instrumento tal como está a funcionar efectivamente.

É urgente corrigir essa situação.

JBilro disse...

Excelente Ricardo Castro,o Investimento Público é necessário e será sempre, mas nesta fase terá que ser selecionado (não só o TGV ou o AEROPORTO) e sobretudo fiscalizado e supervisionado, para se evitar a "desconfiança instalada" nas entidades reguladoras, que conduziram a esta CRISE. Também entendi que terá abordado a necessidade de um ESTADO com DIMENSÃO (não fraco), aqui reside a teoria do Estado-região, pobre e periférico; como referiu J. Rodrigues, mas como ele tão bem sabe, esta situação pode ser corrigida, desde que o nosso sistema educacional, não produza mais "SOCIOPATAS"...
A propósito de desperdícios, vai-se realizar em LONDRES, em Fevereiro de 2010, um encontro (para não lhe chamar Congresso...lol) de jovens de todo o Mundo, cujo tema será a CRISE, mas onde também pretendem abordar a extinção dos Partidos Políticos, logo da idiologia-interesse de grupos sociais emergentes. Sobre este "tema", existe já muita publicação e os jovens preparam-se para criar um MUNDO NOVO GLOBAL.

Tiago Santos disse...

Oh maria...está a chegar a uma conclusão porque parte de premissas que lhe dão jeito...se a propriedade comum retornar ao seu papel primeiro porque não admitir que o retorno também era uma mudança na redistribuição que a faria mais justa?E mais...parece-lhe que o capitalismo é a terra para quem a trabalha?não sem em que mundo vive, mas neste a terra não é para quem a trabalha...

Tiago Santos disse...

Efectivamente penso que o investimento pode ser nocivo se os Estados continuarem ao serviço de interesses, por isso é que perguntei à uns tempos aos profs. José Reis e José Castro Caldas o que devia de mudar primeiro: se o modelo político ou o modelo económico...

E penso que se o modelo político tem de mudar, se os Estados se devem tornar ao serviço dos cidadãos, penso que neste momento, e no curto prazo, precisamos simplesmente de salvar as pessoas dos fantasmas do desemprego e da pobreza consequente...depois deve vir a mudança civilizacional...

Ricardo Castro disse...

JBilro, quando disse estado fraco não me enganei. Possivelmente estou enganado, mas era isso que queria dizer.

Posso reformular: considero que o nosso Estado não é capaz de cumprir a sua missão e fazer cumprir a missão que cabe aos outros agentes da sociedade. Independentemente de o avaliarmos a partir das visões mais minimalistas ou maximalistas. E de certa forma isso pode ser alterado e depende de nós portugueses.

Já sobre a dimensão o problema parece-me mais complexo. Avanço três dados óbvios: somos um país pequeno em termos de população; somos um país pequeno em termos económicos e geográficos e o nosso estado é um Estado-Nação (tal como os outros).

Mas as sociedades são hoje globais.

Isso está a colocar uma enorme pressão sobre os estados nacionais. Cada vez respondem menos a um sem número de problemas no âmbito da justiça, que perde em capacidade reparadora (vejam-se os casos do padre frederico, da fátima felgueiras, da menina russa); para os reguladores que perdem em capacidade para fiscalizar (o caso dos bancos nacionais, em virtude do aumento da mobilidade de capitais e da organização multinacional das empresas); nas políticas de saúde pública (que não são capazes de efectivamente impedir a entrada e proliferação de certas epidemias: desde a obesidade às epidemias gripais); a investigação científica (fuga de cérebros), na segurança social (dificuldades de aceitação social em recrutar emigrantes); e também no ambiente, na dispersão nuclear, pressão sobre os salários, pressão sobre a carga máxima que um país pode pedir aos seus cidadãos em termos de impostos, no poder de negociação com as empresas, criando inclusivamente distorções no mercado interno em função dos incentivos dados às grandes empresas, ...

Não há dimensão suficiente para resolver estas questões. Isso faz-se com a destruição do modelo centrado na integração dos povos num comércio mundial único, com o reforço da cooperação entre nações, com mais integração europeia, com o fortalecimento da ONU, com a criação de outras instituições internacionais. Não sei. Mas é muito mais complexo.

Mas há muito trabalho a fazer em termos de organização do estado, inclusivamente para o adequar a um mundo destes.

Incitador disse...

Os economistas não têm demonstrado ter capacidade para solucionar os problemas do país. Não tenho esperança de que venham a conseguir ultrapassar essas suas limitações nas próximas décadas.(Leia-se o post "Más Influências" no blogue incitador.blogspot.com)