quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Inovar à esquerda - II


[Continuação do texto iniciado aqui]

2. Um modelo de crescimento económico inviável

A crise mundial que conhecemos teve (e tem!), como seria de esperar, consequências muito negativas do ponto de vista do agravamento da pobreza, tanto em extensão como em intensidade. Não só se agravou a pobreza tradicional em muitos países como surgiram novas formas de pobreza, sobretudo em países ditos desenvolvidos, incluindo os Estados Unidos e os países da U E.

Os governos nacionais e as autoridades supranacionais têm procurado contornar os efeitos da crise e evitar que o fenómeno da exclusão social se propague e atinja níveis que ponham em risco a própria democracia e o modelo de economia e de sociedade que conhecemos. Cresce a convicção de que não bastam medidas pontuais, já que a crise é global e de natureza sistémica e que são também muito limitados os resultados das políticas nacionais, por mais generosas que se apresentem.

Surgem no horizonte propostas de criação de mecanismos que assegurem uma melhor regulação das transacções a nível mundial e pressões políticas no sentido de que se venha a pôr termo à especulação financeira que esteve na origem do desencadear da crise. Por seu turno, no plano nacional, os reguladores financeiros impuseram critérios mais exigentes no que respeita a normas prudenciais e intensificaram as acções inspectivas assim como têm recorrido a injecções de liquidez no sistema.

São certamente medidas necessárias e urgentes mas, por enquanto, deixam intocável o modelo de crescimento económico. Ora, a crise actual não é apenas uma crise financeira com os seus decorrentes efeitos no funcionamento da economia. É o próprio modelo de crescimento económico que se mostra inviável: quer por razões de insustentabilidade ambiental (esgotamento de recursos não renováveis, efeitos sobre a degradação do meio ambiente, atentados à biodiversidade, …) quer por aumento de risco de perda de coesão social (concretizado na elevada e crescente desigualdade na repartição da riqueza e do rendimento, no elevado volume de desemprego, na precariedade do trabalho e nos baixos salários, no alastramento da pobreza, no desajustamento da oferta de bens às necessidades básicas de boa parte da população) quer, ainda, porque, nas actuais circunstâncias de informação e mobilidade das populações, o mau funcionamento da economia constitui um factor propiciador de violência e de ameaça à paz.

A actual crise obriga, assim, a repensar o modelo de crescimento económico num quadro mais amplo, o da sua finalidade última de desenvolvimento humano e sustentável e abre caminho a um maior envolvimento da sociedade civil na viabilização de empreendimentos de economia social e de economia solidária que assentem na valorização dos recursos humanos e no seu emprego em produção de bens e serviços de utilidade social.

Em particular, cabe atender às necessidades de consumo e às potencialidades de emprego e inserção no sistema produtivo dos grupos de população mais carenciada e providenciar no sentido da criação de serviços de proximidade adequados às suas reais necessidades e recursos humanos. Trata-se de olhar a crise a partir de baixo e colocar a economia ao serviço das pessoas e do seu bem-estar.

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