sábado, 14 de novembro de 2009

Leituras com pontos de interrogação

A evolução da produção industrial na Grande Depressão e na crise actual (via Paul Krugman). O peso do monstro que ninguém dispensa (o Estado, sempre o Estado), com as suas garras orçamentais e monetárias, e o selectivo “regresso do mestre” (Keynes, quem mais podia ser?) podem explicar o essencial desta evolução diferenciada. É claro que isto coloca questões interessantes e já clássicas sobre os futuros do capitalismo e sua eventual superação, da “socialização do investimento”, ou seja, do controlo das forças do mercado, à inevitável “eutanásia do rentista”, porque não queremos gente a viver apenas da passagem do tempo, passando pelos controlos de capitais que domam a instável finança de mercado. Krugman volta a elogiá-los depois de ter retirado qualquer referência a este instrumento da primeira para a segunda edição do seu livro o regresso da economia da depressão...

Estas discussões ocorrem num quadro em que o espectro do estado estacionário regressa. E se calhar tem de regressar devido aos limites naturais. Os economistas clássicos diziam que o estado estacionário estava inscrito na evolução do sistema capitalista. Duvido. Como seria o estado estacionário num sistema que, como dizia a economista Joan Robinson, não tem outro propósito a não ser impedir que a festa acabe, e que até agora tem sido bem sucedido nesse intento? Para alguns, claro. Podemos ter Prosperidade sem Crescimento? Título de um excelente relatório da comissão britânica para o desenvolvimento sustentável. Uma das pessoas que o redigiu disse-me que a versão original não tinha o ponto de interrogação. O governo britânico exigiu que se colocasse o ponto de interrogação…

3 comentários:

CCz disse...

Gostava era de ver o gráfico comparativo tendo em ordenadas a taxa de desemprego, ou outras variáveis que meçam o sofrimento das pessoas.

Luís disse...

Falar de estado estacionário "neste sistema" é obviamente uma contradição nos seus próprios termos.
Mas noutro olhar, o estado estacionário sempre pairou sob a história real do capitalismo via evolução cíclica da taxa de lucro (DUMÉNIL & LÉVY).
Estava curioso de quando apareceria esse gráfico; afinal a Crise já não terá paralelo com a Grande Depressão; afinal os poderes públicos "aprenderam", como disse V. Constâncio desde o princípio.
Mas já a recuperação das bolsas deixava antever esta inversão. Resta saber o que motivou a reversão das cotações. Tanto pânico para nada: mais uns pauzinhos de dívida, um retoque aqui e acolá e a infalível máquina do capitalismo está de novo sobre rodas.
Resta saber onda vamos parar; ou se saímos sequer do lugar.

Pedro Viana disse...

O artigo da New Left Review é muito interessante. A propósito dos limites naturais ao crescimento económico, aproveito para chamar a atenção para um texto que apareceu no mês passado na Scientific American

Does economics violate the laws of physics?