sexta-feira, 2 de abril de 2010

Parece que preferem o caos...

“A crise grega é terrivelmente reveladora das contradições da construção europeia (…) Um processo de convergência teria podido ser sustentado por uma política de harmonização das condições fiscais e sociais da actividade económica e pela aplicação de ferramentas adequadas, por exemplo um orçamento europeu que financiasse as transferências necessárias a essa harmonização. Mas a escolha de um modo de construção liberal privilegiando a concorrência “livre e não falseada” excluía à partida essa orientação. A escolha da moeda única não foi motivada pelas suas supostas vantagens. A estabilização das taxas de câmbio teria podido ser obtida por dispositivos menos rígidos que permitissem reajustamentos periódicos. O euro serviu sobretudo para impor a disciplina salarial: como daí em diante era impossível jogar com a taxa de câmbio, o salário tornou-se a única variável de ajustamento”. Michel Husson, Europa: A refundação ou o caos.

Vale a pena ler também o artigo, mais longo e detalhado, de Husson sobre a perda dos rendimentos do trabalho a favor dos rendimentos de capital na Europa, num contexto em que as desigualdades salariais não cessaram de crescer (o sítio deste economista francês é uma mina para todos os que se interessam por economia política, ou seja, por economia realista). Enfim, como disse um dia o realista milionário norte-americano Warren Buffet, a luta de classes existe e a minha classe ganhou-a. Quando isto ocorre à escala europeia, a crise económica é mais do que certa. Contradições do capitalismo que têm de ser resolvidas com reformas que superem o regime económico instituído em Maastricht e a economia da chantagem criada pela actual configuração da globalização.

6 comentários:

Anónimo disse...

De facto.. o que é claro para toda a gente é actualmente os empresários têm ganho dinheiro a torto e a direito. Já estão tão ricos que é por isso que se têm acelerado as falências, já nem precisam de continuar a explorar-nos, fecham as empresas de tão ricos que estão..

Anónimo disse...

Para se criar uma empresa é preciso 5.000€ e uma boa ideia. Agora, com a internet, até se podem fazer coisas interessantes e lucrativas com apenas com 5.000€. Contudo, eu vejo "o povo" com carros bem mais caros do que 5.000€. Com casas bem mais caras do que 5.000€. Com roupas de marca que não valem um charuto mas que são pagas a peso de ouro, mas mesmo assim compram para sair a noite onde estouram aos 30 e 40 euros na disco. Viagens a Londres pela ryanair. Telemóvel da moda. PS3 e o LCD em casa. Sim, estou a falar do português médio! Por mais precária que seja a nossa realidade vê-se o português médio a desfrutar de tudo isto, sendo que dinheiro para um livro ou para um curso de inglês para o filho, isso já não tem, para isso a vida está difícil..
Deste ponto poderia concluir para várias vertentes, mas concluo para esta: Se ser patrão é assim tão fabuloso, porque não investem mais as pessoas na criação de empresas? Caso não tenham reparado.. vivemos numa economia de mercado, onde a condição de empresário ou trabalhador não são condições fechadas ou seladas, faz sentido chamar de classes? Pertenço eu hoje a uma classe e se amanha criar uma empresa passo a pertencer a outra? enfim... há pessoas complexadas que não se conseguem libertar dos contos de fadas juvenis, do bom contra o vilão, do príncipe contra o dragão.. e para alguns do capitalista contra o operário. Evoluam.. não conseguem ver as coisas como pessoas/indivíduos e não como classes?
São vocês que criam esta ficção de luta de classes, de luta por "direitos", e ao exigirem que o individuo A tenha a uma responsabilidade inflacionada de dar mais estabilidade e remuneração ao individuo B do que aquela que a REALIDADE permite, são vocês que estão, de certa forma, a criar a ficção de "superioridade" do individuo A sobre o individuo B.
Eu acredito em indivíduos livres e equiparados entre si, independentemente da sua riqueza. E basta me ver os jornais portugueses para verificar que a corrupção está tanto ou mais instalada no vosso amado "Estado" do que em qualquer outro domínio, provando que o mal do mundo não é fruto de neoliberalismo nenhum mas sim de pessoas e não é de certeza um estado gordo e intromissor que resolveria alguma coisa.. muito provavelmente só pioraria... deixem as pessoas, em liberdade, resolver os seus próprios problemas.. e não lhes prometam paraísos que (1) são utópicos e (2)atrasam a dura mas necessária tarefa da sociedade enfrentar os seus próprios problemas e ser ela própria, não uns burocratas, a resolve-los.
A liberdade económica obriga a responsabilidade económica de todos os seus agentes. Por exemplo, se o país gasta mais do que produz, TODOS deveríamos ter a responsabilidade de nos contermos. Contudo, aqueles que ironicamente se autoproclamam os defensores do povo, são quem consideram o povo incapaz de assumir a responsabilidade subjacente à liberdade, suponde que, quais crianças, devem ser protegidos por “direitos” divinamente concedidos e por uma elite de burocratas, reféns da ociosidade das funções públicas que detêm, que se julga intelectualmente superior, tal como por exemplo, os autores deste blog.

BS

Anónimo disse...

BS,
avaliando o que você escreveu - designadamente no último ponto, quando se dirige aos autores deste blog - não será muito difícil perceber qual o tipo de julgamento sobre os outros que distingue os imbecis daqueles que lhes são intelectualmente superiores, não acha?
FO

Jorge Teixeira disse...

Subscrevo inteiramente o BS.
Mesmo que isso faça de mim um imbecil.

asinus disse...

http://ruadopatrocinio.wordpress.com/2010/04/06/voces-sao-as-proximas-vitimas-disse-theodoros-pangalos-mas-o-problema-nao-esta-no-sector-publico

João Aleluia disse...

A questão da transferência de rendimento do trabalho para o capital não acontece por decreto neoliberal, acontece devido à crescente obsolescencia dos trabalhadores. Com os avanços tecnologicos, apenas os profissionais qualificados são suficientemente produtivos para concorrer com o capital. Deste modo, e uma vez que na europa quase nenhum pais investe a serio na qualificação, é natural que a esmagadora maioria dos trabalhadores estajam a concorrer pelo numero decrescente de trabalhos que ainda pode ser desempenhado por pessoas sem qualificações.

Para mais, esta não é uma situação nova, ao longo da historia, sempre que apareceu uma nova tecnologia que substitui o trabalho, houve um aumento significativo do desemprego até que as pessoas adquirissem novas qualificações em outras profissoes. O problema hoje em dia é por um lado a dimensão do problema, uma vez que as expansões tecnologicas ocorrem à escala global, e por outro o facto de a evoluçao tecnologica já estar a um nivel tão elevado que hoje em dia ser bem sucedido em algo outrora tão simples como gerir um café, implica um elevado nivel de qualificação (para ser bem sucedido, não para montar uma chafarica e ganhar uns tostoes durante uns tempos).

A solução para este problema reside em investir fortemente num sistema de educação de qualidade, para toda a gente, só assim voltará o trabalho a ganhar terreno em relação ao capital e só assim se garantirá a igualdade de oportunidades.

O estado atirar dinheiro para cima do problema só o agrava, e nacionalizar, ou de outro modo restringir o capital, só provoca a canalização de recursos para o consumo e para activos improdutivos. Deste modo nivelar-se-á tudo por baixo e em breve estarão todos na rua a protestar como na Grecia.