sexta-feira, 22 de julho de 2011

Notas

Algumas notas iniciais sobre a “verdadeira revolução nos mecanismos de ajuda aos países em dificuldades”, para usar a manifestamente exagerada caracterização do Público. Em primeiro lugar, não é ajuda por causa da austeridade recessiva e da fúria privatizadora, que continuam a ser impostas às periferias, embora o centro europeu se tenha contido nos ganhos com as taxas de juro impostas. Em segundo lugar, não é revolução porque estamos na presença de reformas parciais no financiamento que abrem em definitivo a época da reestruturação da dívida, na variante conduzida pelos interesses dos credores, tentando, de forma irrealista, circunscreve-la à Grécia e tentando minimizar perdas que terão de ser provavelmente muito mais substanciais, dada a situação financeira que é agravada pela austeridade. Em terceiro lugar, o fundo de estabilização tem um mandato mais flexível, recomprando dívida, mas a sua armadura financeira não é reforçada, o que incentiva todas as apostas especulativas e todos os efeitos dominó. Não estamos ainda perante a emissão de euro-obrigações, claro. Em quarto lugar, note-se como o memorando que era “para cumprir à risca” já foi alterado, apenas nas condições de financiamento, passados três meses. Imaginem o que aconteceria se os governos das periferias tivessem uma atitude mais activa em matéria negocial, uma consciência mínima dos interesses nacionais. Em quinto lugar, a referência vaga à necessidade de organizar um plano de investimento na Grécia revela a má consciência desta desunião europeia: a estratégia da austeridade fracassou, mas ainda não têm a coragem de a superar. Esta continua a ser a principal linha divisória porque é a austeridade que gera a crise. Até quando?

2 comentários:

Anónimo disse...

Esta flexibilização no pagamento do empréstimo é apenas para os países não quebrarem de imediato, não querem tomar nenhuma medida de fundo, vão continuar a saquear o pouco que os países que estão em dificuldades têm para dar para mais tarde se decidir se é melhor deixa-los falir ou optar por uma integração mais profunda. O "interesse nacional" já não tem qualquer significado, o único interesse nacional que é defendido é o da Alemanha ou o da França. Defender a soberania de outros no nosso território não é nem mais nem menos do que uma ocupação.

asinus disse...

http://ruadopatrocinio.wordpress.com/2011/07/22/o-bluff-de-ackermann-companhia/