domingo, 8 de janeiro de 2012

Phoneman

Eduardo Catroga é o novo “chairman” da EDP. Dada a sua agenda telefónica, a designação de “phoneman” parece-me mais apropriada. A privatização de grandes empresas estratégicas nacionais vem sempre acompanhada dos mitos da despolitização e da concorrência. Dois mitos perniciosos. Na realidade, a política nunca desaparece, quanto muito torna-se mais invisível, menos escrutinada e menos compatível com o interesse público, até porque estamos perante empresas com poder estrutural, com poder para moldar as tão inevitáveis quanto políticas regras do jogo que determinam as suas transacções. De resto, nos sectores fundamentais da economia, a partir de um certo nível de desenvolvimento, só podemos ter poder e discricionariedade empresariais, já que a concorrência de mercado, que de resto não só nunca os elimina como pode dar-lhes um sentido destrutivo, é, em geral, uma impossibilidade. Quando é possível, graças a grande esforço político, pode bem ser sinónimo de todas as inseguranças e incertezas, incompatíveis, entre outras, com o tipo de investimentos envolvidos; um obstáculo a circunscrever ou a superar com toda a força possível, por exemplo, persuadindo ou capturando decisores políticos, tantas vezes mascarados de reguladores ditos independentes.

A questão fundamental é então a de saber se o poder empresarial é exercido tendo em vista o interesse público, o que pressupõe em muitas áreas controlo público directo e/ou a existência de contrapoderes internos e externos à empresa fortes, laborais e não só, ou tendo em vista o interesse privado mais estreito, o da chamada “criação de valor para o accionista”, mas que na realidade é transferência de valor para o accionista, geralmente à custa dos trabalhadores e da comunidade, em sectores que têm a capacidade de gerar custos sociais muito elevados.

Que os manuais de microeconomia convencional não abordem estes e outros assuntos relacionados com essa realidade incómoda, mas indispensável, que é a grande empresa, preferindo as inanidades maximizadoras que a transformam numa caixa negra equiparada a um “agente individual”, a um “tolo racional”, só confirma o que um dos principais analistas económicos da grande empresa na segunda metade do século XX, John Kenneth Galbraith, disse sobre o ensino da economia: “tal como é convencionalmente ensinada, a economia é em parte um sistema de fé, cujo propósito não é tanto revelar a verdade, mas mais fortalecer a confiança dos que dela comungam nos dispositivos sociais estabelecidos”.

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