domingo, 22 de janeiro de 2012

Realismo

Nas últimas duas décadas, as elites portuguesas foram influenciadas por um romance de mercado, globalista e pós-nacional, segundo o qual o controlo público de sectores estratégicos, os controlos de capitais e outros instrumentos para o desenvolvimento nacional seriam relíquias de um passado estatal e ineficiente, substituído pelos amanhãs europeus e globais que cantam, apesar da performance económica nunca ter voltado a ser a mesma.

Agora que uma empresa pública chinesa, que dá pelo transparente nome de State Grid, se prepara para passar a controlar a REN, no quadro do último fôlego de um irresponsável processo de privatizações que caberá reverter no futuro, isto se quisermos reconstruir um Estado estratega capaz depois da ruína causada pelo tal romance, podem ler o dossiê da The Economist sobre a projecção internacional do capitalismo de Estado.

Apesar do óbvio viés liberal, até esta revista reconhece alguns factos sobre o papel central do chamado Estado desenvolvimentista ao longo da história: “todas as potência emergentes necessitaram do Estado para desbloquear o crescimento ou para, pelo menos, proteger as indústrias mais frágeis”. Daqui até começarmos o processo de libertação das utopias globalistas, um processo realista de protecção socioeconómica, é só um passo que a The Economist ou estas elites políticas capturadas nunca terão incentivos para dar.

2 comentários:

fec disse...

João Rodrigues, dizes:

“todas as potência emergentes necessitaram do Estado para desbloquear o crescimento ou para, pelo menos, proteger as indústrias mais frágeis”. Daqui até começarmos o processo de libertação das utopias globalistas, um processo realista de protecção socioeconómica, é só um passo que a The Economist ou estas elites políticas capturadas nunca terão incentivos para dar."

A tua coerência anti-comércio livre mundial é de louvar.

O que pessoalmente ponho em dúvida é se será éticamente correcto condenar um sistema que permitiu a milhões de pobres sair da pobreza só porque eles sairam da pobreza e agora ameaçam a classe média dos países ricos.

Penso que seria éticamente mais justo (e em termos de geopolitica mundial menso perigoso) lutar por um comércio mundial livre mas com mecanismos poderosos de protecção mundial aos mais pobres de mundo, um mecanismo redistributivo que se centrasse não em proteccionismos injustos e perigosos mas num ataque sistematico aos mais ricos do mundo (sejam eles dos EUA, da China, da Europa, ou de Angola ou de Moçambique) que permitisse a redistribuição de recursos para os mais pobres do mundo (e, nomeadamente, dos chamados paises ricos).

Zuruspa disse...

Qual o sistema que permitiu a milhões de pobres sair da pobreza? É que todos se podem gabar disso.

Näo vás por aí.

É eticamente correcto condenar um sistema que mantém intocável uma elite de super-ricos enquanto a classe média é ameaçada, independentemente do que acontece no resto do Mundo. Essa dos milhões de pobres sairem da pobreza e agora ameaçarem a classe média dos países ricos é a desculpa muy esfarrapada das tais elites.

O PIB per capita da OCDE em 2007 igualmente distribuído dava para todos os habitantes serem mais ricos que o que eram, aparte o 5% do topo. E a culpa é dos pretos e amarelos? Ou é do sistema eticamente condenável?