quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O equívoco sobre a estratégia de austeridade

A austeridade deveria gerar a confiança, que atraia o capital financeiro, que baixaria os juros, que aumentava o investimento empresarial, que recuperava o crescimento. Este é o circulo virtuoso subjacente à terapia aplicada na Grécia, Irlanda, Portugal, a que se seguiram a Espanha e Itália. Mas a terapia virtuosa transformou-se num circuito infernal, num buraco negro que engole milhares de milhões de euros. (Helena Garrido, Jornal de Negócios)

Este é o novo consenso que começa a emergir na comunicação social: a austeridade era uma estratégia que visava restaurar a confiança dos mercados; mas a ênfase na consolidação orçamental foi exagerada, levando as economias para uma recessão prolongada; em suma, a estratégia da austeridade falhou.

Esta narrativa revela uma mudança de discurso por parte de quem durante muito tempo aceitou o mito da ‘fada da confiança’. No entanto, a análise parece falhar num ponto essencial: como aqui escrevi há quase um ano e meio, dar confiança aos 'mercados' foi sempre um objectivo secundário para os responsáveis políticos pela estratégia em causa.

A estratégia da austeridade consiste, desde o início, num combate sem quartel aos salários, aos direitos sociais e às possibilidades de controlo democrático das economias (em toda a Europa e não apenas nos países em crise), através do choque e do medo gerados pelos elevados níveis de desemprego, acompanhados pela redução da protecção social. Nesta perspectiva, a estratégia de austeridade está longe de ter fracassado.

Muito mais do que divergências académicas sobre como se deve combater uma recessão, estão em causa decisões sobre o modelo de sociedade que queremos para o futuro. Não haja equívocos.

3 comentários:

Dias disse...

Parabéns pelo postal!
De facto não há disco rígido que substitua a nossa memória…A austeridade foi e continua a ser a bruta, não a da “fada confiança” que trazia consigo “a nova imagem perante os mercados”, e já agora com violino.
Afinal não é o tempo que escamoteia a realidade: quem ganhou e continua a ganhar com a crise, são os agiotas, os especuladores e alguns criminosos não-julgados.

Anónimo disse...

O fluir constante e permanente de informação leva a que se diga hoje uma coisa e no dia seguinte o seu contrário.E o pior é que a grande maioria das pessoas acho isso normal.
É o caso da autora deste blog que, ainda não há muito tempo era adepta fervorosa destas medidas de austeridade, na senda e coerente com a sua ideologia neoliberal e agora neste post assume uma posição contrária.. Mas, mais vale tarde do que nunca.
Austeridade, ajustamentos, reajustamentos, são tudo eufemismos para empobrecimento, não de todos mas apenas de alguns. É curta a memória dos homens..
Na impossibilidade de desvalorizar a moeda e assim ganhar competitividade, este governo apostou no empobrecimento das pessoas, não de todas ... só de algumas "in casu" - os funcionários públicos e pensionistas que já viram os seus salários e pensões cortadas em cerca de 25%.
Agora que, como tudo indica, esses cortes se irão entender também aos privados, e consequentemente à senhora autora deste blog, parece que a senhora está assustada... o que a leva a desdizer e negar tudo aquilo em que acredita e tudo aquilo que escreveu até à exaustão.

Anónimo disse...

Queremos pedir desculpa ao autor e "dono" do Blog Ladrões de Bicicletas,quando lhe imputamos declarações e pensamentos que nada têm que ver com ele.
De facto o nosso comentário incide apenas e tão só sobre as declarações da Helena Garrido citada pelo Blog e era só a ela que nos referíamos.
De resto o este Blog tem um posicionamento politico por demais conhecido que afasta liminarmente tudo aquilo que eu inadvertidamente lhe imputei.