sábado, 25 de janeiro de 2014

Não pensem em ter futuro



«Enquanto no debate público se avolumam vozes contra os cortes (...), o ministro da Educação e Ciência garantia no Parlamento que o Governo quer ciência "de grande qualidade", que "o Governo não desinvestiu na ciência e continua a apostar na formação avançada" e que há um "programa de retenção dos melhores dos nossos cientistas e dos melhores investigadores internacionais." (...) Proceder como procede o Governo nesta área, desinvestindo claramente e sugerindo que isso é investir ainda mais, equivale a dizer que estamos mais ricos estando mais pobres, porque aprendemos a viver com a nossa pobreza. Não. Se o Governo quer, na verdade, sujeitar a ciência aos cortes anunciados, que afirme isso mesmo e não disfarce com piedosas intenções. Quem aguentou coisas tão graves também aguentará essa. Esqueça, nesse caso, é "a retenção dos melhores" e a "ciência de grande qualidade", pois não basta desejá-la para ela acontecer. Se o investimento diminuir, os resultados também diminuirão.»

Do Editorial do Público de hoje ou, dito de outro modo, da homenagem de Nuno Crato à novilíngua e ao duplipensar, na semana em que se cumpriram 63 anos após a morte de George Orwell.

3 comentários:

Anónimo disse...

E todos se estão a esquecer que a partir de 2011 houve uma alteração fundamental no financiamento das instituições (os designados projetos estratégicos): passaram a ser pagas mediante a apresentação de pedidos de pagamento do que iam gastando.

Em resultado desta pequena alteração, que veio inverter o processo anterior de adiantamentos regulares e fiscalização das contas ao longo do tempo, a maioria das instituições começou a receber muito mais tarde, em particular as instituições integradas nas universidades públicas, que só apresentaram a maioria das despesas dos anos 2011-2012 no final de 2012 e início de 2013.

Conclusão: a execução apregoada pela Governo é naturalmente maior que nos anos anteriores, com a grande nuance que diz respeito a despesas efetuadas nos anos anteriores.

Se em vez de contabilizarem a data em que pagam às instituições contabilizassem a data em que as despesas são executadas, facilmente comprovaríamos que houve uma boa descida no investimento em ciência.

Nota: o mesmo se aplica ao financiamento aos projetos de investigação.

João Paulo Dias

Unknown disse...

João, os projectos de investigação já eram assim financiados. Já agora, a realidade, por muita execução artificial que queiram vender, é que não há dinheiro para a ciência, mesmo. E no quadro de execução já ouvi dizer, apesar de não ter ido conferir, que os dados foram martelados com dinheiros europeus lá no meio. Para finalizar, a execução mais eficiente acontece, não por melhorias na fct ou governo, mas sim pelos investigadores que são os únicos responsáveis por ela. Eu falo por conhecimento próprio que a fct está cada vez mais mesquinha e a dificultar a execução de projectos de investigação, chegando a levantar suspeitas!!! na execução de verbas.

R.B. NorTør disse...

Os projectos de investigação e a FCT têm um historial que envolve mais nevoeiro do que o regresso de D. Sebastião...

Lembro-me do concurso de 2008 que, no mesmo dia em que saíram os resultados o painel de química viu publicado o painel de apelo. Segundo se dizia nos corredores, houve um erro admnistrativo na escolha do júri e muita gente que já contava com projectos (e que os tinham regularmente aos 3 e 4 por ano) nesse ano viu-se sem nenhum. No entanto foi curioso que, dos 16/17 painéis apenas um teve um diferente júri...