segunda-feira, 6 de outubro de 2014

O povo, pá


1. Nuno Ramos de Almeida fez uma pergunta subversiva na semana passada e nós hoje precisamos de perguntas e de respostas subversivas: “E se, em vez do veneno e a queda no abismo que nos apregoam os comentadores avalisados, o populismo fosse a solução necessária para sair desta crise?”. As palavras são importantes e o seu sentido também. Deve haver poucas palavras tão maltratadas como esta, incluindo pela esquerda; tão maltratadas como o sujeito político que se pretende esconjurar no seu uso dominante, já aqui também se defendeu: é o povo, pá.

2. Gostei de ler o projecto de resolução “renegociar a dívida, preparar o País para a saída do Euro e retomar o controlo público da banca para abrir caminho a uma política soberana de desenvolvimento nacional” e revejo-me no essencial das suas três articuladas propostas políticas e no diagnóstico que lhes subjaz, embora a fórmula dos “38 anos de política de direita” precise de complemento. Graças, entre outros, ao lastro de Abril e às lutas sociais posteriores houve continuadas contratendências de política pública da máxima importância e que explicam que ainda hoje haja muito a defender: do SNS à escola e segurança social públicas. As tendências neoliberalizadoras, em larga medida sobredeterminadas externamente, levaram a melhor e levam-no cada vez mais, claro, mas é preciso reconhecer e valorizar as contratendências socialistas, até para que, com os toques de política adequados, estas se tornem nas tendências dominantes. A democracia avançada parte daqui.

 3. Como também temos aqui repetidas vezes assinalado, nunca como hoje foi tão claro como as questões nacional, a da independência do país, e social, a da sorte dos de baixo, estão entrelaçadas: a pós-democrática chantagem do BCE – compra trampa aos bancos em troca de novas rondas de reformas regressivas – ou a reacção da bourbónica Comissão Europeia – não aprende e não esquece nada – ao tímido aumento do salário mínimo, depois de anos de estagnação em violação do que tinha sido negociado, são só dois exemplos bem representativos. Dois exemplos absolutamente relevantes das tendências presentes e futuras determinadas pela passada abdicação de soberania nacional. Trata-se mesmo de voltar ao povo unido. Este projecto vale todas as acusações por parte da falida sabedoria convencional: de nacionalista a populista...

11 comentários:

Jose disse...

Nada como o populismo para acomodar quem não tem soluçõesalternativas.
Assegura-lhes o poder para aplicar as mesmas soluções mascarads de doses bastantes de vitimização e do folclore que lhes alera a aparência.
Bem alembrado...

Jose disse...

'Uma política soberana de desenvolvimento'
Que emocionamte!
Os Planos de Fomento de regresso, os quadros do regime, os empresários que compreendem a situação, quem sabe se o caminho do Quinto Império. Ah! essa pequena questão do calendário...sec.xxi, globalização, dívida,!?!?!

Jose disse...

'Trata-se mesmo de voltar ao povo unido.'
Sem dúvida alguma.
Onde já se viu populismo sem 'povo unido'?
E onde se viu povo unido sem promessas de maná? (fala-se que houve disso no passado mas ou é fantasia ou era fascismo ou coisa pior)

Aleixo disse...

Esta do "populismo", associo sempre a uma outra:
- "reforma estrutural"!

Não percebo como há tanto "intelecto" a gastar energias, a caracterizar cada uma das expressões!

Populismo...

Se reflecte a vontade e expectativa do povo...
...as iminências pardas, dizem que não pode ser!

Reforma estrutural...

Se retiram algo, ao usufruto do povo... lá vêm os mesmos gabirus dizer...tem de ser!

Depois, vêm p'ra cá...falar de DEMOCRACIA!

Anónimo disse...

Sobre o populismo muito há a dizer.

Mas agora o registo serve apenas para lembrar ao sr jose que as soluções aternativas existem e estão mais viçosas do que o que o mesmo jose quereria ( ou não passasse jose tanto tempo a fazer finca-pé nos caminhos únicos dos seus amigos cavacos, passos , portas ,merkeles e restante quadrilha)

Por isso basta de vitimizações e de folclore com que jose tenta esconder isto:
"a nossa situação de crise social, política e económica deriva da existência de um regime que serve unicamente uma pequena elite. A crise é o nome de uma máquina de guerra, de alguns, que transformou uma sociedade injusta numa ainda mais desigual, a pretexto dessa mesma crise.

A razão por que 99% da população está muito mais pobre e 1% mais rica, e desta 0,01% riquíssima, é que o poder na sociedade está nas mãos dessa imensa minoria.

Mais que medidas pontuais, o que é necessário é reverter este processo: o poder numa sociedade não pode estar nas mão de uma minoria para satisfazer os interesses de uma casta política e económica que vive dos lucros de negócios garantidos suportados pelos contribuintes"

Nuno Ramos de Almeida

As doses manhosas com que alguns tentam mascarar a realidade descrita aqui pelo Nuno não podem passar

De

Anónimo disse...

"Uma política soberana de desenvolvimento nacional"

Nada de quintos impérios ou planos de fomento dos tempos de antanho.

Apenas a confirmação que a nossa elite ( e nesta não estou a incluir o sr jose) sempre traiu de facto os interesses dos que nada mais tinham do que a força do seu trabalho,sempre traiu as massas populares.
Assumiram-se como traidores Tanto na crise de 1383-85, como no domínio castelhano em 1580- 1640.Preferiram o domínio espanhol, preferiram a gamela do dinheiro e das benesses.

Hoje é o que se vê. A direita ( e nesta incluo já o sr jose) canta hossanas a merkel, bebe-lhe os passos , segue com o passos em passos e através das portas. Utiliza aquele vocabulário típico a respeito da irremediabilidade das coisas, agora à custa de termos como
"seculo XXI", ou "globalização".
Pelo meio "esquece-se" que este século já viu demais para alguém poder tirar a conclusão que o mundo está melhor ( só se pertencer ao tal 0,1%).

(E entretanto falam da dívida?
Dívida? A dívida que os neoliberais nvocando os interesses dos agiotas internacionais e dos crápulas financeiros querem esconder e que é devida a quem trabalha, a quem vê roubado salário,pensão,férias ,feriados, direitos sociais?)

Não há dúvida. A direita está nisto sem escrúpulos e sem pruridos.Uns vendilhões do país a tentarem aprender alemão para melhor imitarem passos, portas e cavaco nos salamaleques a merkel e no dobrar do espinhaço cerimonioso

"Nos países dependentes a oligarquia caracteriza-se por perder as referências nacionais (veja-se onde têm as sedes os seus grupos económicos e onde colocam os lucros). Tornam-se "correias de transmissão" dos centros imperialistas para conservar um certo domínio político e económico no país e partilhar os seus recursos. Uma "correia de transmissão" sem a qual a acção externa seria ineficaz ou não rentável. Os governos ao seu serviço falam então em "ganhar a confiança dos mercados". Como se as oligarquias não se estabelecessem na antítese do teoricamente livre mercado liberal. "

De

Anónimo disse...

Finalmente o "povo unido"

Ou a necessidade premente de a ele voltar.

E o pavor que tal volte a suceder que nem os mal amanhados "manás" conseguem ocultar.

De

Anónimo disse...

Mas há todavia algo que, para além do que já foi aqui dito, não pode passar em claro.
É o elogio insidioso e torpe do fascismo traduzido nesta frase a todos os títulos "manhosa"

"fala-se que houve disso (maná) no passado mas ou é fantasia ou era fascismo ou coisa pior

O fascismo foi o que se viu.Maná só mesmo para os mesmos donos que hoje são os donos de Portugal.O sofrimento, a miséria, a fome, a tortura, a prisão ,a guerra colonial, os asassinatos foram manás sim...mas para os torcionários e para os que à custa deles erigiram o seu império.

De

mexilhão disse...

Sendo social-democrata e nos dias de hoje é ser radical de esquerda, não concordo que se metam todas as direitas no mesmo saco. Se a social-democracia já está no papo do neoliberalismo (o Partido Trabalhista de Tony Blair foi um espécie de cavalo de troia neoliberal!), por maioria de razão estará a direita social: a democracia-cristã representada por pessoas como Bagão Félix, Freitas do Amaral, e mesmo o Papa Francisco, entre outras figuras nacionais e estrangeiras. trata-se de uma direita legítima conservadora nos costumes, defensora da doutrina social da igreja e suas derivações políticas, despidas de qualquer referência ao marxismo. O Pós-guerra na Europa ocidental que permitiu construir a Europa social (c/ algumas exceções c/o Portugal) foi efetuada tanto por partidos sociais-democratas c/o democratas-cristãos! Daí que a luta contra o neoliberalismo tenha também que se fazer à direita. O que sucede é que é a extrema direita clássica que está a aproveitar.! Por isso, sem prejuízo de as esquerdas encontrarem soluções de governação (porque alternativas há muitas, só para a morte é que ainda não!) a luta contra o ordoliberalismo deve fazer-se no lado conservador.

Jose disse...

Com os teus parêntesis não te armes em hermeneuta DE, se a gramática não foi entregue aos brasileiros aí estaria (povo unido sem promessas de maná).
Tão estranho te é que haja povo unido sem maná à vista...

Anónimo disse...

Com o devido respeito ainda não autorizei o sr jose ao tratamento displicente e vulgar a que ele parece ciclicamente querer voltar. Os motivos para tal atitude um pouco suspeita podem ser vários mas francamante não me interessam.

E não me interessam porque quero de facto distância de alguém que faz a apologia encapotada do fascismo e depois vem falar em hermenêutica..Quer encapotada em povo unido sem promessas quer em promessas com manás.

Já agora sublinhe-se o racismo larvar duma tal gramática "entregue aos brasileiros".

Há quem entregue o país ao capital.Veja-se o caso exemplar dos submarinos, onde figuras gradas do neoliberalismo governamental mostram do que são feitos e como são feitos

De