quarta-feira, 27 de julho de 2016

Uma pedra a menos no caminho e o essencial dos problemas por resolver

Sejamos claros: a não aplicação de uma multa a Portugal retira uma pedra do caminho, mas deixa o essencial dos problemas por resolver.

A Comissão Europeia e o Ecofin assumiram formalmente que Portugal e Espanha não tomaram as medidas necessárias para cumprir as regras europeias. Ou seja, apesar dos cinco anos de austeridade destruidora, apesar da co-responsabilidade das instituições europeias pelo falhanço dessa estratégia (que, como os próprios vieram agora reconhecer, não permitiu que as metas fossem alcançadas, depois de toda a sucessão de aumentos de impostos e cortes na despesa), as instituições europeias decidiram que os países em causa não cumpriram as regras e que são culpados por isso. A decisão de não avançar com uma multa não anula aqueles pressupostos.

A decisão hoje tomada será utilizada para reforçar o nível de pressão sobre o governo português. A narrativa é fácil de perceber. Estão a dizer-nos: “vocês são irresponsáveis, vocês não fizeram o que deviam; resolvemos dar-vos mais uma hipótese, mas é bom que façam tudo o que vos dissermos daqui para a frente”. E o poder de chantagem continua bem presente, como fica claro das declarações que vamos ouvindo.

Entretanto, os problemas fundamentais continuam por resolver. As regras da União Europeia e da zona euro continuam a assumir que um país que se encontre em crise nada pode fazer que não seja acentuar a degradação da actividade económica e dos direitos sociais e laborais. Não havendo solução à vista que dê resposta às enormes diferenças nas estruturas económicas dos países participantes na UE, as economias mais frágeis continuarão a enfrentar condições de financiamento muito mais desfavoráveis, tornando-as vulneráveis aos humores dos mercados financeiros internacionais e, por conseguinte, ao poder de chantagem de quem na UE está numa posição financeira vantajosa.

Em suma, a decisão da Comissão Europeia dá com uma mão o que sabe que pode tirar com a outra. Esta decisão não torna menos premente a necessidade de questionar as regras europeias – nem de nos prepararmos de todas as formas para fazermos valer as nossas posições. Por outras palavras, as mensagens do vídeo abaixo continuam tão válidas como antes.




9 comentários:

Anónimo disse...

E daqui 5 anos, quando Portugal estiver ainda pior, não se esqueçam de pedir por “mais Europa”!

E isto se a U.E. ainda existir...

Anónimo disse...

Um excelente post a chamar a atenção para o que é essencial.

Os vampiros continuam a sobrevoar-nos. Eles querem de facto os nossos sangue, suor e lágrimas

Unknown disse...

Eles deviam era resolver todos os nossos problemas, anular a dívida,para que os irresponsaveis que governam bem com o dinheiro dos outros possam continuar a ser solidários, com os gregos, venezuelanos e todos os Podemos deste mundo.Se o ridiculo tivesse barbas eramos todos uns velhos do Restelo.

Anónimo disse...

Resolver todos os nossos problemas?

Ó Cristóvão que disparate é esse?

Olhe que o sr tem barbas ...

António Pedro Pereira disse...

Se este Cristóvão soubesse ler, eu aconselhava-o a ler um livro que aborda os perdões de divida da Alemanha, «Não há mapa cor-de-rosa», de José Medeiros Ferreira.
Explica muito bem os meandros da formação da UE, que vem desde muito antes mesmo da CECA, as relações entre estados e os perdões de dívida, que são uma coisa trivial ao longo da história desde os primórdios da civilização, no Médio Oriente, ainda no tempo de Jesus Cristo.
A Alemanha teve um perdão substancial em 1932, e o último, ainda decorrente da das indemnizações de guerra, curiosamente feito por Portugal, na parte que nos cabia receber de indemnizações por perdas da guerra, em 1989.
Toma lá ignorante Cristóvão.
Vai alfabetizar-te primeiro e depois lê uns livrinhos.
Sempre poderás aprender alguma coisa.

Unknown disse...

porque somos um país de iludidos? com elites enganosas e irresponsáveis que vivem de demagogia e da fuga de contraditório capaz?

Jose disse...

«Não havendo solução à vista que dê resposta às enormes diferenças nas estruturas económicas dos países participantes na UE...»
Os Fundos Estruturais desbaratados pelo pleno exercício da soberania lusa (vejam-se os polidesportivos e parques de merendas por esse país fora) não contam nunca.
Se nos ditam regras, ofendem a soberania.
Responsabilidade própria é sempre escamoteada.
E nada como constituir direitos para evitar retrocessos. Assim os credores façam o mesmo...

Anónimo disse...

Os fundos estruturais desbaratados?

Mas não o foram pela direita neolibeeral, banqueiros bem nutridos e capitalistas de alto coturno, no processo de saque típico deo processo que vivemos?

Exercício da soberania lusa?
Mas então a soberania compra-se como se compra uma merectriz num mercado de proxenetas a troco de fundos estruturais?

Vejma-se os polidesportivos e parques de merendas?
Mas então os parques de merendas equiparam-se aos desfalques produzidos pelos bancos e pelos Swap e pelas PPP e pelo dinheiro traficado nos offfshores? Havia por aí um que falava nos prejuízos do BPN como se fossem trocos. E agora vem falar em "merendas"?

Anónimo disse...

Ditam regras?
Mas então o gosto pelas regras que vem do tempo de Salazar e das regras impostas pela sua polícia política é de tal forma potente que esse desejo de obedecer se perpetua ao longo dos anos, desta forma cobarde e sem coluna vertebral?
E obedecer ao mais forte, e obedecer contra o país, desde que tal encha os bolsos de alguns a começar pelos que defendem a obediência a ordens de trastes?

Responsabilidade escamoteada?
A responsabilidade de quem? De quem foge aos seus compromissos com o povo português e com a dignidade e se vende como uma prostituta de luxo ao grande capital, assumindo o seu papel de banqueiro e de político do poder económico? Ou do que andou a rezar pela ssanções tal qual um traidor de meia tijela?

Direitos , retrocessos e credores?
Esta é a missa rezada, beata e desprezivel de quem anda a exigir para os agiotas e para os credores o sangue,suor e lágrimas dos que trabalham , enquanto defende os offshores para colocar a salvo o capital e o produto do saque?